Potencial econômico da cannabis é destaque em audiência da Frente Parlamentar de São Paulo
Especialistas discorreram sobre os benefícios oferecidos pela planta, como as propriedades medicinais, produção de bioplástico e recuperação de solos
A Frente Parlamentar da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) realizou nesta quarta-feira (27) sua primeira audiência do ano. Os benefícios econômicos e ambientais do cultivo de cânhamo foram debatidos por especialistas, que abordaram as diversas aplicações da planta, desde a fabricação de medicamentos até a produção de tecidos.
O debate foi aberto pelo deputado Caio França (PSB), coordenador da frente e autor da lei que garante o fornecimento gratuito de remédios à base de maconha na rede pública de São Paulo. Segundo o parlamentar, os medicamentos chegarão ao SUS paulista em maio.
França também anunciou que o grupo lançará um novo edital de emendas parlamentares neste ano para financiar projetos ligados à cannabis para fins medicinais e industriais com recursos do estado, visando distribuir R$ 1 milhão em verbas para incentivar a ciência, a pesquisa, a saúde, a tecnologia e a educação. No ano passado, a iniciativa chegou a R$ 734 mil em financiamento.
Leia também: Frente parlamentar da cannabis em Pernambuco defende produção local
O deputado Eduardo Suplicy (PT), vice-coordenador da frente, destacou a miríade de oportunidades econômicas, ambientais e de saúde oferecidas pela cannabis, desde o baixo consumo de água para sua produção e a fitorremediação de solos degradados até a possibilidade de substituir o plástico e os benefícios nutricionais e medicinais das sementes e óleo da planta.
“Para que estes benefícios sejam plenamente realizados, é crucial que adotemos regulamentações sensatas e rigorosas para garantir a segurança e qualidade dos produtos relacionados ao cânhamo, que podem promover práticas agrícolas sustentáveis, reduzindo nossa dependência de recursos não renováveis e impulsionando o crescimento econômico em setores emergentes”, declarou Suplicy.
A jornalista Manuela Borges, fundadora do Instituto InformaCann, também participou da reunião usando um vestido branco confeccionado com fibra de cânhamo. Ela organizou a exposição “Cânhamo: uma revolução agrícola não psicoativa”, que está em exibição na Alesp até 5 de abril.
“A planta é muito mais para além de ser já um medicamento incrível. Ela é um supermercado dentro da planta: produz uma farmácia com as flores, produz no caule casa e roupa, a semente é alimento, as folhas produzem cama animal, enfim, é uma infinidade. Quando a gente começa a estudar, não tem como ficar contra”, explanou Manuela, observando que pretende levar a exposição sobre cânhamo à audiência que será realizada pelo Superior Tribunal de Justiça.
Leia mais: STJ realiza audiência pública sobre cultivo de maconha para produção de medicamentos
Os potenciais econômicos e sustentáveis da cannabis também foram abordados pelo químico industrial Ubiracir Fernandes, que defendeu a desmistificação da planta e o incentivo às pesquisas científicas, e lamentou a proibição do cultivo em solo nacional.
“A combinação de diversas substâncias químicas para que tenha a propriedade farmacêutica precisa e deve ser estudada. A gente só vai ter mais facilidade para pesquisar se tiver matéria-prima. Eu vou avançar muito mais e com velocidade se eu tiver matéria-prima”, ponderou Fernandes.
O advogado Arthur Arsuffi, por sua vez, apontou para a incoerência na regulação brasileira que permite a produção de produtos à base de cannabis, mas proíbe o plantio — embora a Lei de Drogas brasileira e os tratados internacionais permitam o cultivo de plantas proscritas para fins medicinais ou industriais. Ele recorreu ao STJ para que uma empresa de biotecnologia seja autorizada a cultivar cânhamo.
“Da perspectiva do plantio, ela [RDC 327/2019] é esquizofrênica. A gente tem um país que é líder mundial no agronegócio, e na resolução a gente tem uma permissão para produzir medicamentos à base de cannabis no Brasil, só que curiosamente eu tenho que importar a matéria-prima”, afirmou Arsuffi, apontando para falta de lógica em as empresas serem obrigadas a enviar dinheiro para fora.
Ativista e empresária do ramo têxtil, Renata Lima apontou para a necessidade uma regulamentação de forma organizada do cânhamo, levando em conta suas milhares de aplicações. “Eu quero plantar para o têxtil, para o bioplástico, para fazer alimento, para fazer concreto. Então é importante ter essa separação. Não são todos os cultivares que vão servir para tudo”, declarou.
O tamanho do mercado global de cânhamo foi estimado em US$ 6,8 bilhões em 2022 e deve atingir US$ 18,1 bilhões em 2027. Um dos principais impulsionadores desse crescimento é a legalização do cultivo de cannabis em vários países ao redor do mundo.
Enquanto isso, no Brasil, a maior preocupação dos legisladores é constitucionalizar a “guerra às drogas” e manter os presídios superlotados com o encarceramento de usuários de maconha e populações vulneráveis, principalmente negros e pobres.
Assista a gravação da audiência da Frente Parlamentar da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial:
Leia também:
Legalização da maconha supera último obstáculo na Alemanha e deve entrar em vigor em abril
Imagem de capa: Bruna Sampaio | Alesp.
- Uso frequente de maconha não deixa as pessoas preguiçosas ou menos motivadas, mostra estudo - 12 de maio de 2024
- Goiás: Deputados derrubam veto do governador à distribuição de medicamentos de cannabis - 10 de maio de 2024
- Participantes de audiência pública rechaçam PEC das Drogas na Câmara dos Deputados - 9 de maio de 2024
- Governo de São Paulo publica protocolo clínico para tratamento à base de cannabis - 9 de maio de 2024
- Reino Unido publica primeiras avaliações de segurança positivas para produtos de CBD como novos alimentos - 7 de maio de 2024
- Jorge Seif: Cinquenta quilos de haxixe são apreendidos em empresa da família do senador - 7 de maio de 2024