Escócia terá a primeira sala de consumo de drogas ilegais do Reino Unido

Instalação permitirá que as pessoas usem substâncias ilícitas de forma segura em um ambiente de cuidados de saúde, reduzindo o risco de overdose e doenças infecciosas, sem o risco de serem processadas por posse de drogas

A primeira sala de consumo de drogas ilegais do Reino Unido será instalada em breve na cidade escocesa de Glasgow como forma de enfrentar a crise de mortes por overdose. O local permitirá que as pessoas consumam substâncias como cocaína e heroína em um ambiente controlado sob supervisão de profissionais da saúde.

O projeto-piloto será financiado pelo governo da Escócia e prevê a instalação da sala de consumo em um centro de saúde onde já funciona um serviço de tratamento que fornece heroína de qualidade farmacêutica aos pacientes, que injetam a droga sob supervisão de uma equipe de enfermagem treinada.

A nova instalação servirá para os cidadãos usarem suas próprias drogas em um local higiênico e seguro, além de oferecer aconselhamento e apoio de assistentes sociais e de saúde. O intuito é reduzir os danos associados ao consumo de substâncias.

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O Conselho Conjunto de Integração de Glasgow, órgão responsável pelos serviços comunitários de saúde e assistência social que inclui representantes do NHS escocês e do Conselho da Cidade, aprovou a implementação da sala de consumo nessa quarta-feira (27).

“Existem provas internacionais esmagadoras que demonstram que instalações para o consumo mais seguro de drogas podem melhorar a saúde, o bem-estar e a recuperação das pessoas que utilizam as instalações e reduzir o impacto negativo que a injeção em público tem nas comunidades e empresas locais”, diz um relatório do conselho conjunto.

O documento também menciona um estudo realizado após um surto de HIV em 2016 que estima existirem aproximadamente 400 a 500 pessoas que injetam drogas regularmente em locais públicos no centro da cidade de Glasgow.

Apesar do número de mortes relacionadas ao uso indevido de drogas no ano passado ter caído para o nível mais baixo desde 2017, a Escócia ainda tem a pior taxa de mortalidade por overdose na Europa.

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Observando as experiências positivas de outros países com a adoção da estratégia de redução de danos e da descriminalização das drogas, o governo escocês está mudando sua atitude em relação à questão das drogas e partindo para uma abordagem de saúde.

“Esta não é uma solução mágica. Mas sabemos, a partir de evidências de mais de 100 instalações em todo o mundo, que as instalações para consumo mais seguro de drogas funcionam”, disse a ministra da política de drogas da Escócia, Elena Whitham.

A implementação da sala de consumo tem sido discutida desde o surto de Aids, contudo somente agora o Gabinete da Coroa (Crown Office) decidiu emitir uma declaração apoiando a iniciativa no sentido de não processar os pacientes por posse de drogas ilegais.

O documento emitido pelo Crown Office afirma que “não seria do interesse público processar consumidores de drogas” pelo crime de porte para uso pessoal cometido dentro de uma instalação de consumo mais seguro de substâncias.

A instalação deve ser inaugurada em abril de 2024 e funcionará inicialmente por três anos, com um custo de £ 2,3 milhões (R$ 14,4 milhões) por ano.

Um documento publicado pelo governo escocês em julho descreve medidas que poderiam ser implementadas pelo Reino Unido para reduzir as mortes relacionadas ao uso indevido de drogas. Além das salas de consumo supervisionado, as propostas de reforma da legislação também pedem a descriminalização de todas as drogas para uso pessoal.

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Imagem de capa: Maksim Goncharenok / Pexels.

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