Avião da Igreja Quadrangular é flagrado pela Polícia Federal com 290 quilos de maconha

Em nota, a Igreja do Evangelho Quadrangular afirma que “recebeu com surpresa a notícia do envolvimento do monomotor Bonanza, de sua propriedade, com carga não autorizada”

Artigo atualizado em 31/05 – 8h20

A Polícia Federal prendeu, na manhã do último sábado (27), uma pessoa que estava prestes a transportar 290 quilos de maconha em um hangar de voos particulares do Aeroporto Internacional de Belém, no Pará. O avião apreendido é propriedade da Igreja do Evangelho Quadrangular e, segundo informações apuradas pela Fórum, estava sendo utilizado pelo ex-deputado e pastor Josué Bengtson, líder espiritual na Igreja Quadrangular no Pará, tio e padrinho político de Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Família no governo Bolsonaro (2019-2022) e atualmente senadora pelo Distrito Federal, e por seu filho, Paulo Bengtson, que também é ex-deputado federal e atualmente integra o governo do estado do Pará. Sobre a droga encontrada na aeronave, ambos declararam à revista não ter conhecimento de que a maconha seria carregada na aeronave.

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“A partir de informações de inteligência, soube-se que havia um carregamento de entorpecente com plano de voo a Petrolina (PE)”, informa a nota da PF. “Minutos antes da decolagem, prevista para 7h30, o responsável pela droga foi abordado, enquanto caminhava do pátio à aeronave. Ao ver a polícia, correu para fora do aeroporto mas foi alcançado. A droga ocupava todo o espaço que sobrava na aeronave, além dos assentos para um passageiro e o piloto.”

O homem foi autuado em flagrante por tráfico interestadual de drogas. O piloto não foi preso, pois não foi verificada participação dele no crime. A aeronave foi apreendida, assim como o celular do preso.

Em nota, a Igreja do Evangelho Quadrangular afirma que “recebeu com surpresa a notícia do envolvimento do monomotor Bonanza, de sua propriedade, com carga não autorizada”, e que “é interesse da Igreja que tudo seja esclarecido e, portanto, reafirma o seu compromisso de colaborar com as investigações”.

PF desmente versão de Damares e diz que avião de igreja já estava sob monitoramento

Após a divulgação da operação da PF, no dia 29, a senadora Damares Alves se pronunciou alegando que a própria igreja havia alertado a polícia sobre a carga suspeita encontrada na aeronave.

“Damares Alves entrou em contato com a família e foi informada de que a denúncia à Polícia Federal sobre uma carga suspeita transportada na aeronave foi feita pelos responsáveis do avião, ou seja, pela própria igreja”, afirmou a senadora em seu perfil no Instagram.

No entanto, a PF contradiz essa versão e afirma que “a ação foi realizada com base em informações de inteligência do Núcleo de Polícia Aeroportuária” da corporação.

De acordo com a apuração da Folha de S. Paulo, os policiais federais já estavam monitorando a aeronave da igreja após receberem informações suspeitas sobre o seu uso irregular.

Em relação ao pronunciamento da senadora, a PF declara que não comenta investigações em andamento e que “não se manifesta sobre declarações feitas por pessoas, representantes ou autoridades de outras instituições”.

Dois pesos, duas medidas

A notícia desta apreensão salta aos olhos não apenas por que a aeronave pertence a uma instituição religiosa, tampouco somente pela relação com ex-deputados e, indiretamente, com a senadora Damares Alves, mas também pelo fato de que prisões por tráfico de grandes quantidades de maconha são minoritárias no sistema judicial brasileiro — a maioria dos casos envolvem quantidades tão baixas quanto 150 gramas de erva, revelando a seletividade das incursões e dos processos em que, muitas vezes, réus poderiam ser vistos como meros usuários.

De acordo com um estudo inédito realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 58,7% dos casos por tráfico de maconha, por exemplo, foram apreendidas menos de 150 gramas, 27,3% entre 151 g e 2 kg, 11,1% acima de 2 kg e 3,2% sem informações sobre a quantidade. A média de cannabis apreendida variou de 20 a 1.140 gramas nos 5.121 processos analisados em todos os tribunais do país.

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Imagem de capa: Comunicação da Polícia Federal no Pará.

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