Análise mapeia impacto do abuso de drogas ilícitas na América do Sul

Fotografia mostra um vidro escuro com suporte metálico sobre uma mesa de mármore em tons de cinza e uma pessoa sentada atrás da mesma, enquanto segura uma lâmina de gilete próximo a duas carreiras de cocaína e uma nota de dinheiro enrolada que estão sobre a superfície. Foto: Piqsels.

A pesquisa analisou dados relativos à taxa de mortalidade e ao número de anos vividos com incapacidade atribuíveis ao abuso de anfetaminas, cannabis, cocaína e opioides de 1990 a 2019

Um estudo publicado em fevereiro deste ano na revista Lancet Psychiatry analisa os danos causados pelo abuso de substâncias ilícitas na América do Sul em um período de trinta anos. A pesquisa cujo primeiro autor é o Dr. João Maurício Castaldelli-Maia, orientador da pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), contou com informações do Global Burden of Disease Study, um estudo sistemático realizado pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, em parceria com diversas instituições científicas em todo o mundo.

“No caso das drogas ilícitas, a América do Sul se mostra uma região muito estratégica”, diz o pesquisador em nota da FMUSP. “Somos o maior produtor de cocaína do mundo e um enorme produtor de cannabis, enquanto em relação aos opioides possuímos baixo uso quando comparados com a média global”.

Entre as tendências observadas nas últimas três décadas, é possível observar uma estabilização no nível dos danos provocados pela maconha no Uruguai, que legalizou a cannabis no país em 2013. No Brasil, destaca-se o crescimento significativo do ônus à população pelo uso da cocaína, seguido por uma estabilização e decréscimo na curva. Em relação aos opioides, a média global ficou muito acima dos números da América do Sul, embora tenha havido um acréscimo em determinados países, como Brasil e Equador.

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O estudo utilizou como principal métrica os DALYs (sigla em inglês), ou Anos de Vida Ajustados por Incapacidade, que consistem na soma dos anos perdidos devido à morte prematura e os anos vividos com algum tipo de sequela ou incapacidade, ambos levando em conta a expectativa de vida média da população. As taxas de mortalidade e de sequelas variam significativamente entre os diferentes tipos de drogas: enquanto a taxa associada à cannabis por cada 100.000 indivíduos fica abaixo de 20, na cocaína esse teto sobe para 60 e nos opioides para 180 casos.

Para o pesquisador, a área de saúde mental ainda carece de investimentos abrangentes, incluindo o tratamento e a prevenção de dependências. Nesse contexto, o foco recai sobre a cocaína como a substância mais relevante para investigação na América do Sul, dado os altos índices de transtornos associados à droga em quase todos os países da região e os resultados promissores obtidos por programas de redução de danos.

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Foto de capa: Piqsels.

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