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Foto mostra os ícones do Instagram e do Facebook, plataformas da Meta, em uma tela de celular. Imagem: Unsplash | Brett Jordan.

Meta continua lucrando com anúncios de substâncias ilícitas em suas plataformas

Empresa dona do Instagram e do Facebook ainda está aprovando anúncios de traficantes após vários meses desde o início de uma investigação que apura seu papel no tráfico de drogas

A Meta está veiculando anúncios no Facebook e no Instagram que levam os usuários a mercados on-line de drogas ilegais e continua arrecadando receitas com esses anúncios, que violam suas próprias políticas, informou o Wall Street Journal nessa quarta-feira (31). Isso apesar da empresa estar enfrentando uma investigação federal nos Estados Unidos por facilitar a venda de substâncias ilícitas.

Em março, o WSJ relatou que promotores federais dos EUA estavam investigando a Meta por seu papel no tráfico de drogas. Segundo o jornal, a empresa continua permitindo a publicação de anúncios vendendo substâncias ilegais como cocaína, psicodélicos e fentanil, opioide associado a centenas de milhares de mortes por overdose nos últimos anos.

Os promotores solicitaram registros relacionados a “conteúdo violador de drogas nas plataformas da Meta e/ou venda ilícita de drogas por meio das plataformas da Meta”, de acordo com cópias de intimações revisadas pelo WSJ. As intimações foram entregues no ano passado.

A Meta utiliza inteligência artificial para moderar os conteúdos em suas plataformas, mas comerciantes de drogas experientes em tecnologia conseguem contornar as regras da empresa postando fotos dos produtos em vez de escrever o que estão vendendo na descrição. Após clicar nos anúncios, os usuários são levados para sites de terceiros ou aplicativos de mensagens, como WhatsApp ou Telegram, onde os internautas são inseridos em bate-papos de revendedores com menus de preços e instruções sobre como realizar o pedido da droga, segundo o WSJ.

Uma investigação do grupo de vigilância Tech Transparency Project (TTP) encontrou mais de 450 anúncios nas plataformas da Meta vendendo uma variedade de substâncias. Vários anúncios mostravam fotos de frascos de drogas prescritas, pilhas de pílulas e pós ou tijolos de cocaína.

“Nossos sistemas são projetados para detectar e aplicar proativamente contra conteúdo violador, e rejeitamos centenas de milhares de anúncios por violar nossas políticas de drogas. Continuamos a investir recursos e melhorar ainda mais nossa aplicação nesse tipo de conteúdo”, disse um porta-voz da Meta ao WSJ, ressaltando que a empresa está trabalhando com a polícia para combater o tráfico de drogas em suas plataformas.

No entanto, investigações do TTP em 2021 e 2022 já mostravam como o Instagram permitia que adolescentes de até 13 anos encontrassem drogas à venda na plataforma. Além de permitir o acesso de menores a substâncias ilegais, os negócios ilícitos veiculados pela Meta ainda estão associados a mortes, como observou o WSJ. Como é o caso de um menino californiano de 15 anos que morreu de overdose após trocar mensagens no Instagram com alguém que estava vendendo uma droga parecida com Xanax. A autópsia do garoto revelou a presença de fentanil em seu organismo.

Segundo o WSJ, as contas com as quais o garoto havia entrado em contato permaneceram ativas por meses após sua morte e só foram removidas após o jornal denunciá-las à Meta.

De acordo com o TTP, os anúncios de drogas levantados por sua investigação foram encontrados em várias plataformas da Meta, incluindo Facebook, Instagram, Messenger e Meta’s Audience Network, que coloca anúncios em aplicativos móveis que fazem parceria com o serviço. Somente no Instagram, foram identificados 405 anúncios de substâncias ilegais.

Em uma audiência do Senado dos EUA realizada em 31 de janeiro de 2024, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, pediu desculpas a um grupo de pais cujos filhos foram prejudicados pelas redes sociais, incluindo alguns que morreram de overdose. “Ninguém deveria passar pelas coisas que suas famílias sofreram e é por isso que investimos tanto”, disse ele, acrescentando que a empresa “continuará fazendo esforços em toda a indústria para garantir que ninguém tenha que passar pelas coisas que suas famílias tiveram que sofrer”.

No mesmo dia, a Meta publicou dois anúncios no Facebook, Instagram e Messenger para pedaços de uma substância branca em pó que parecia ser cocaína. Os anúncios direcionavam os usuários a entrar em contato com o traficante por meio de contas do Telegram. A página do Facebook por trás dos anúncios, “Cali Gaz House”, está cheia de imagens de drogas e tinha uma foto de capa em um ponto que dizia “Encomende, pague, receba”.

A página publicou pelo menos seis anúncios semelhantes, incluindo um mostrando o que parece ser um tijolo de cocaína estampado com o símbolo do nazismo.

Ao mesmo tempo que segue lucrando com anúncios das mais variadas drogas ilícitas, a Meta persegue empresas que trabalham totalmente dentro da legalidade sem nenhum indício de comércio de substâncias, mesmo sendo amplamente conhecidas pelo trabalho que realizam há vários anos.

Nessa quarta-feira, a Meta suspendeu o perfil da Smoke Buddies no Instagram, alegando que o conteúdo feria as diretrizes da comunidade, por estar em desacordo com as regras que proíbem que “comprem, vendam ou troquem itens que governos baniram ou restringiram”, exemplificando que não é permitido “vender tabaco, álcool ou drogas”, entre outros.

Com postagens diárias desde 2012 e mais de 243 mil seguidores que acompanhavam as notícias sobre maconha, a Smoke Buddies tem como missão noticiar e propagar informações jornalísticas sobre cannabis e política de drogas sob um viés antiproibicionista, e jamais se empenhou em realizar qualquer uma das práticas mencionadas pela Meta.

Leia também: Dicionário da maconha: termos e expressões do universo canábico

Imagem de capa: Unsplash | Brett Jordan.

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Joel Rodrigues

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