alcool vs cannabis no transito

Álcool é mais perigoso que cannabis no trânsito, revela estudo

Nova análise de mais de 8.300 motoristas envolvidos em acidentes revela que o álcool continua sendo a substância mais perigosa nas estradas. Cannabis aparece com menor impacto, especialmente quando consumida isoladamente

Uma extensa análise publicada na revista científica JAMA Network Open confirmou o que diversos especialistas em políticas de drogas vêm apontando: o álcool é, de longe, a substância mais associada ao risco de acidentes de trânsito, superando significativamente a cannabis.

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O estudo revisou dados de exames toxicológicos de mais de 8.300 motoristas envolvidos em acidentes automobilísticos no Canadá. Os resultados mostraram que mais da metade dos motoristas testou positivo para alguma substância controlada — sendo álcool, cannabis e depressores do sistema nervoso central os mais detectados.

Apesar de a cannabis ter sido a substância mais comumente detectada entre os motoristas mais jovens (19 a 24 anos), os autores destacam que a imensa maioria apresentava apenas traços residuais de THC, ou seja, níveis compatíveis com consumo anterior e não necessariamente recente. Apenas cerca de 3% dos casos apresentavam níveis elevados de THC (≥ 5 ng/mL), patamar mais relacionado a efeitos psicoativos agudos.

“Essas estatísticas sugerem que, embora mais motoristas testem positivo para THC, o álcool continua sendo a maior ameaça à segurança no trânsito”, concluíram os pesquisadores.

Simuladores apontam diferenças comportamentais claras

Estudos anteriores com simuladores de direção também foram citados para ilustrar o contraste entre os efeitos das duas substâncias ao volante. A cannabis, embora possa impactar o tempo de reação e o controle de faixa, está associada a comportamentos compensatórios, como redução da velocidade média e maior distância de seguimento. Já o álcool está ligado a uma condução mais agressiva e imprudente, aumentando drasticamente o risco de colisões.

Essas evidências reforçam os achados de outro estudo, este realizado pela Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário dos EUA, que concluiu que motoristas com qualquer nível detectável de THC no organismo apresentam risco significativamente menor de acidentes do que aqueles que dirigem com níveis legais ou próximos de álcool no sangue.

Combinação entre álcool e cannabis aumenta risco

O estudo também fez um alerta importante: a combinação de álcool com cannabis amplifica os riscos de acidentes de forma significativa. Motoristas que testam positivo para ambas as substâncias têm probabilidade consideravelmente maior de envolvimento em colisões do que aqueles que consumiram apenas uma delas.

Implicações para políticas públicas

Os dados reforçam a urgência de se adotar critérios mais precisos e baseados na ciência para avaliar a influência de substâncias psicoativas na direção. A persistência do THC no organismo, especialmente em consumidores frequentes, desafia os modelos atuais de tolerância zero — muitos deles já questionados por especialistas em direito e toxicologia.

No Brasil, onde a regulamentação da cannabis ainda engatinha, o Código de Trânsito prevê punições severas com base apenas na presença da substância no organismo, sem levar em conta a concentração ou a real capacidade de direção do motorista. Isso coloca em risco o direito de pacientes medicinais e pode criminalizar condutas sem prejuízo real à segurança viária.

Conclusão

A nova análise publicada no JAMA amplia o entendimento científico sobre os riscos reais de substâncias ao volante. O recado é claro: se o objetivo é salvar vidas no trânsito, o foco das políticas públicas deve ser direcionado ao álcool — ainda a substância mais letal nas estradas. Ao mesmo tempo, é preciso avançar em modelos mais justos e técnicos de avaliação do uso de cannabis, principalmente diante de sua crescente legalização e aceitação social.

Foto: Canva Pro

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