Um dos mais importantes artistas da música brasileira, cantor falou sobre sua relação com as drogas e como as substâncias o ajudaram a alcançar o autoconhecimento
Reverenciado como uma das maiores vozes de todos os tempos, Ney Matogrosso falou com franqueza sobre o uso de drogas e defendeu a liberação de todas, em uma entrevista icônica à revista Breeza. Aos 82 anos, o multiartista que apresentou a psicodelia ao público brasileiro durante o auge da ditadura militar comentou a respeito de assuntos polêmicos, como o consumo de substâncias psicodélicas e o fim da vida.
Questionado se não tem medo de associar sua imagem às drogas, o intérprete de clássicos como Primavera nos Dentes, Assim Assado e O Vira — e tantas outras músicas que desafiaram o regime militar — afirmou que isso não é um problema, pois seu compromisso é “apenas com a verdade”.
“Toda vez que tenho que falar sobre o assunto eu falo com muita clareza, acho que tem que ser tudo liberado. O álcool é liberado, o remédio pra dormir você compra facilmente, então tem que ser tudo liberado e as pessoas têm que ser conscientes do que estão fazendo”, disse Matogrosso, que também criticou a hipocrisia do Congresso Nacional em relação ao tema.
Vocal sui generis que irradiava a lisergia nas melodias dos Secos e Molhados, o artista revelou à Breeza que já tomou ácido lisérgico (LSD), usou ayahuasca por um ano e meio e consome maconha e cogumelos até hoje. Segundo ele, essas substâncias o ajudam a se autoconhecer e a lidar com os problemas, como os de relacionamento, por exemplo.
“Já usei muitas coisas, mas nunca usei pra festa. Eu uso para o meu entendimento próprio. Foi assim com o ácido. Eu tomei mais de vinte ácidos, mas tudo era foco no autoconhecimento. E a maconha também é para aumentar a minha percepção, porque amplia a percepção, né? Mas não faço uso regularmente. Eu uso a maconha quando tenho algum problema que eu não estou entendendo qual é a solução”, contou.
Matogrosso também comentou sobre quando estava ensaiando o último show de Cazuza e levou o amigo para tomar ayahuasca em um culto de Santo Daime realizado no meio de uma floresta.
“Ele andava com uma garrafinha que não deixava ninguém se aproximar, porque viajava com aquela garrafinha de daime e só ele tomava. Na reta final do Cazuza, pelo que eu saiba, ele tomou o daime. Mas ele tomava dois goles, não um copo. Sabe o que eu gosto de tomar hoje em dia? Uma colher. Não quero ficar desvairado, eu quero uma colher só pra ficar na sintonia”, relatou.
Durante a entrevista, Ney também falou sobre a microdosagem de substâncias.
“Eu tô tomando cogumelo. Tô tomando microdose de juba de leão que é para a memória, que já funcionou muito comigo. E tô tomando agora cannabis pra tirar, exatamente, o remédio pra dormir, porque eu só dormia com remédio. É CBD e THC que eu tomo de noite para dormir”, afirmou.
Ele também falou sobre como a cannabis o ajuda a ter um sono melhor do que o medicamento benzodiazepínico que toma para a insônia. “Nunca fui fumador, nunca fui do ácido. Eu sou de tudo isso, eu que determino o quanto. Nunca fui viciado em nada disso. A única droga que me viciou foi o Frontal, ele é a causa da minha perda de memória”, disse.
Em relação ao potencial dos psicodélicos para o tratamento de pessoas no fim da vida — que vem sendo cada vez mais objeto de estudos —, Ney afirmou que a decisão de utilizar essas substâncias não deveria estar nas mãos do governo e que deseja ser medicado com LSD quando sua morte estiver iminente.
“Você sabe que eu já conversei com um médico amigo meu: ‘Olha, se eu tiver morrendo bota o ácido da melhor qualidade na minha boca, e me deixe morrer’. Não tente me manter vivo artificialmente e me dê um bom ácido e pronto, deixa eu ir. Ué, não temos que ir? Temos que ir em algum momento, eu convivo com muita tranquilidade com essa ideia”, revelou.
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