Usuários de cannabis idosos tiveram taxas significativamente menores de câncer de próstata em comparação com não usuários na mesma faixa etária
Um estudo envolvendo milhares de idosos observou que aqueles que usaram maconha ao longo da vida ou usavam a planta atualmente tinham uma taxa menor de autorrelatos de ter câncer de próstata. Os achados foram publicados em maio na revista revisada por pares Biomedicines.
O câncer de próstata (CP) é o segundo câncer mais comum em homens e o quarto câncer mais comum no geral, de acordo com o Fundo Internacional de Pesquisa do Câncer (WCRF). E os diagnósticos da doença no mundo devem dobrar para 2,9 milhões por ano até 2040, segundo uma projeção recente.
Mas as novas descobertas sugerem que a cannabis pode fornecer alguma proteção contra o desenvolvimento do câncer de próstata, fortalecendo o corpo de evidências existentes de estudos pré-clínicos que demonstraram efeitos antitumorais de canabinoides neste tipo de câncer
Pesquisadores afiliados ao Centro de Câncer e Instituto de Pesquisa H. Lee Moffitt (Flórida) e à Faculdade de Medicina da Universidade de Connecticut examinaram a relação entre o uso de maconha e a incidência de câncer de próstata utilizando dados da Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde dos Estados Unidos (NSDUH) de 2002 a 2020.
A equipe chegou a uma amostra de 2.503 homens com mais de cinquenta anos que disseram já ter tido câncer testicular ou de próstata. Trinta e seis por cento dos participantes relataram ter um diagnóstico de câncer de próstata no momento da entrevista.
O estudo descobriu que a prevalência de câncer de próstata era menor entre usuários atuais de maconha (31,7%) e ex-usuários (31,6%) em comparação com não usuários (39,9%). A prevalência também foi menor entre usuários versus não usuários em idosos com 65 ou mais (36,4% vs. 42,4%) e nos subgrupos brancos não hispânicos (28,9% vs. 38,3%).
Segundo os autores, um dos pontos fortes do estudo é que ele se concentra em indivíduos com mais de cinquenta anos de idade, que têm uma incidência significativamente maior de câncer de próstata.
Outro ponto forte das descobertas é “o suporte biológico para os efeitos anticâncer dos constituintes da maconha”, disseram os cientistas. Vários estudos pré-clínicos demonstraram o efeito antitumoral dos canabinoides no câncer de próstata, bem como a capacidade dos compostos em inibir o crescimento de células cancerígenas em diferentes tipos de tumores.
“Nossas descobertas fornecem dados corroborativos de uma grande pesquisa nacional baseada na população para fortalecer o corpo de evidências existente sugerindo um papel potencialmente protetor da maconha contra o desenvolvimento de CP”, escreveram os pesquisadores.
A pesquisa, até onde sabem os autores, é a primeira a investigar a associação entre o consumo de maconha e câncer de próstata em uma grande coorte, usando uma pesquisa nacional focada no grupo de risco da população masculina mais velha.
Vários estudos observacionais já haviam sugerido que o uso de maconha pode estar associado a um risco reduzido de outros cânceres, incluindo câncer de bexiga, cabeça e pescoço.
“Como a maconha medicinal está sendo usada com mais frequência em pacientes com câncer para controle da dor, náusea e dor abdominal e quase metade dos oncologistas relatam prescrever maconha medicinal a pacientes em algum momento de sua prática, futuros estudos prospectivos em pacientes em uso de maconha medicinal podem facilitar nossa compreensão adicional das potenciais propriedades anticancerígenas”, disseram os autores.
Os pesquisadores também apontaram para algumas limitações do estudo, como a prevalência de câncer de próstata significativamente maior do que a da população masculina idosa em geral, o que pode implicar um viés de seleção do grupo de estudo, e a falta de informações sobre a quantidade e tipo de maconha usada pelos participantes.
Um estudo separado, divulgado em março na Medical Cannabis and Cannabinoids, descobriu que o uso de THC (tetraidrocanabinol) está associado a um aumento significativo no tempo de sobrevivência em pacientes com câncer em cuidados paliativos. Além do maior tempo de sobrevida, os indivíduos que receberam o canabinoide também tornaram-se mais ativos mental e fisicamente.
Leia mais: CBD não é eficaz para tratamento da dor crônica, mostra revisão
Foto em destaque: Rodnae (RDNE)| Pexels.