Foto mostra uma mão segurando um frasco de tampa preta com um rótulo branco onde está escrito "CBD", em verde. Imagem: Freepik.

CBD não é eficaz para tratamento da dor crônica, mostra revisão de estudos

“As evidências atuais são de que o CBD para dor é caro, ineficaz e possivelmente prejudicial”, escreveram os pesquisadores

Uma revisão de estudos publicada recentemente revelou que não há evidências de que os produtos de canabidiol (CBD) reduzam a dor crônica. A pesquisa liderada pela Universidade de Bath (Inglaterra) chegou a essa conclusão após analisar ensaios clínicos sobre a eficácia do canabinoide para o alívio da dor publicados em periódicos científicos até o final de 2023.

Segundo os pesquisadores, dezesseis estudos randomizados sobre CBD e dor foram publicados desde que uma força-tarefa da Associação Internacional para o Estudo da Dor de 2021 examinou as evidências sobre cannabis e dor e não encontrou nenhum ensaio sobre canabidiol.

Os dezesseis ensaios analisados pela equipe foram conduzidos em doze estados de dor diferentes, envolvendo um total de 917 participantes, usando três formas de administração (oral, tópica e bucal/sublingual), com doses de CBD entre 6 mg e 1.600 mg e durações de tratamento entre uma dose única e 12 semanas.

“O exame de produtos de CBD disponíveis na América do Norte e na Europa demonstra que o conteúdo de CBD pode variar de nenhum a muito mais do que o anunciado e que outros produtos químicos potencialmente prejudiciais são frequentemente incluídos”, escreveu a equipe, que inclui pesquisadores das Universidades de Bath, Oxford e Alberta (Canadá).

Os autores advertiram ainda que “danos graves são associados a produtos químicos encontrados em produtos de CBD e relatados em crianças, adultos e idosos”. Eles se referem ao canabidiol vendido sem receita disponível em lojas e on-line na forma de óleos, tinturas, cremes tópicos, comestíveis (como ursinhos de goma) e bebidas.

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Além disso, enquanto pequenos ensaios clínicos usando CBD verificado sugerem que o medicamento é amplamente benigno, os pesquisadores alertam sobre “evidências crescentes que ligam o CBD a maiores taxas de eventos adversos graves e hepatotoxicidade”.

“O CBD apresenta aos consumidores um grande problema”, disse o professor Chris Eccleston, que liderou a pesquisa do Centre for Pain Research (Centro para Pesquisa da Dor) em Bath. “Ele é alardeado como uma cura para toda dor, mas há uma completa falta de evidências de qualidade de que ele tenha quaisquer efeitos positivos.”

A pesquisa, publicada em março deste ano no The Journal of Pain, a revista oficial da Associação dos Estados Unidos para Estudo da Dor, revelou que quinze dos dezesseis estudos analisados não mostraram nenhum benefício do CBD para o alívio da dor em relação ao placebo. (Apenas um ensaio de 19 pacientes com artrite no polegar observou uma redução na dor com canabidiol tópico.)

Estima-se que 30% da população mundial sofre com dores crônicas. “Não é nenhuma surpresa, então, que muitas pessoas busquem produtos de CBD, apesar de seu alto preço e da falta de evidências de sua eficácia ou segurança”, escreveram os autores, em um comunicado.

“Para muitas pessoas com dor crônica, não há remédio que controle sua dor. A dor crônica pode ser terrível, então as pessoas são muito motivadas a encontrar alívio para a dor por qualquer meio. Isso as torna vulneráveis às promessas absurdas feitas sobre o CBD”, disse Andrew Moore, coautor do estudo e ex-pesquisador sênior de dor na Universidade de Oxford.

Moore acredita que os reguladores de saúde são relutantes em agir contra as alegações falsas feitas por alguns fabricantes de produtos de CBD, possivelmente, por que não querem interferir em um mercado em expansão. O mercado global de produtos de CBD foi estimado em US$ 3 bilhões em 2021 e deve chegar aos US$ 36,6 bilhões até 2033.

O tetraidrocanabinol (THC), por sua vez, já demonstrou eficácia no controle da dor em estudos anteriores. Uma pesquisa publicada em 2022, nos Anais da Medicina Interna, revisou 25 ensaios clínicos e descobriu que produtos de cannabis com altas proporções de THC ou proporções comparáveis de THC, em relação ao CBD, estão associados a melhorias na dor crônica. Também foram observados efeitos colaterais, como sonolência e tontura, que são efeitos comuns de medicamentos analgésicos convencionais.

Dito isso, um estudo pré-clínico divulgado recentemente na revista PAIN encontrou evidências que apontam para a eficácia dos terpenos da maconha na redução da dor neuropática crônica. A pesquisa realizada com camundongos mostrou que os compostos aromáticos encontrados na cannabis são tão eficazes quanto a morfina para o alívio deste tipo de dor, com a vantagem de não causarem dependência.

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Imagem de capa: Freepik.

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Joel Rodrigues

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