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Pomada com canabinoides mostra eficácia no tratamento da dermatite atópica

Estudo clínico aponta que fórmula com canabinoides CBD e CBG pode hidratar, acalmar a pele e restaurar a barreira cutânea – sem os efeitos colaterais dos corticoides

Com o avanço das pesquisas e a regulamentação do uso terapêutico da cannabis, os canabinoides vêm ganhando espaço em diferentes frentes da medicina – e a dermatologia é uma delas. Estudos recentes indicam que compostos como o canabidiol (CBD) e o canabigerol (CBG) podem ser eficazes no controle de condições inflamatórias da pele, como a dermatite atópica, de forma segura e sem os efeitos adversos associados a tratamentos tradicionais, como os corticoides.

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Canabinoides na pele: o papel do sistema endocanabinoide

A pele humana possui um sistema endocanabinoide funcional, responsável por regular processos como inflamação, proliferação celular, produção de sebo e resposta imune. Quando substâncias como o CBD e o CBG são aplicadas topicamente, elas interagem com receptores desse sistema, podendo modular respostas inflamatórias e restaurar a homeostase cutânea. É essa base científica que tem impulsionado o uso dos canabinoides em cosméticos e produtos dermatológicos.

O estudo: CBD + CBG no tratamento da dermatite atópica

Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Polônia e publicado na revista científica Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology investigou a eficácia de uma pomada contendo 30% de CBD, 5% de CBG, óleo de semente de cânhamo e colesterol. A pesquisa envolveu nove pacientes adultos com diagnóstico de dermatite atópica leve a moderada, que aplicaram o produto uma vez ao dia nos antebraços por oito semanas consecutivas.

A proposta era ambiciosa: avaliar se uma combinação de canabinoides poderia melhorar aspectos como hidratação da pele, função de barreira, equilíbrio da oleosidade e sinais clínicos como coceira e vermelhidão.

Resultados promissores

Os resultados obtidos foram animadores:

  • Aumento significativo da hidratação da pele
  • Redução da perda de água transepidérmica (TEWL), sinalizando melhora na função de barreira cutânea
  • Redução progressiva do eritema (vermelhidão), perceptível já na quarta semana
  • Melhora no equilíbrio do sebo, favorecendo a regeneração da pele
  • Diminuição da coceira e melhora na qualidade de vida dos pacientes, incluindo relatos de remissão completa em alguns casos

Além dos marcadores objetivos, os participantes relataram alta tolerabilidade da pomada, sem ocorrência de efeitos adversos.

“O uso de canabinoides tópicos oferece uma alternativa promissora aos corticoides, especialmente para pacientes que enfrentam efeitos colaterais com tratamentos convencionais”, destaca o artigo.

Por que o CBG importa?

Embora o CBD seja o canabinoide mais estudado em aplicações dermatológicas, o CBG (canabigerol) tem atraído atenção por seu potencial anti-inflamatório, antioxidante e antibacteriano. O CBG é precursor bioquímico do CBD e do THC, e seu uso combinado pode oferecer efeito sinérgico, conhecido como “efeito entourage”, aumentando a eficácia terapêutica.

Uma alternativa mais natural aos corticoides?

Os corticoides tópicos são amplamente utilizados no tratamento da dermatite atópica, mas seu uso prolongado pode levar à atrofia da pele, telangiectasias, supressão do eixo HPA e rebote inflamatório. A pomada com CBD e CBG se apresenta como uma alternativa mais segura, especialmente para uso contínuo, sem comprometer a eficácia.

No entanto, os próprios pesquisadores reforçam a necessidade de mais estudos com amostras maiores, diferentes faixas etárias, tipos de pele e em diferentes condições climáticas, uma vez que a dermatite atópica costuma piorar em ambientes secos.


Regulamentação no Brasil: uma janela de oportunidade

Atualmente, no Brasil, produtos dermatológicos à base de canabinoides só podem ser adquiridos por meio de importação individual, com autorização da Anvisa, conforme a RDC 660/2022. Isso limita o acesso e encarece o tratamento.

Mas esse cenário pode mudar em breve. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária anunciou, em março de 2025, que abriu uma consulta pública para revisão da RDC 327/2019 – que regula os produtos de cannabis vendidos em farmácias. A expectativa é que a nova regulamentação permita também a formulação e a comercialização de dermocosméticos e produtos tópicos com canabinoides diretamente em território nacional, o que poderá ampliar o acesso e fomentar a inovação no setor.

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Os dados do estudo polonês reforçam o potencial terapêutico dos canabinoides na dermatologia, especialmente em condições inflamatórias como a dermatite atópica. A combinação de CBD e CBG demonstrou eficácia clínica relevante, aliada a uma excelente tolerabilidade, reforçando o movimento global de integração da cannabis medicinal a protocolos dermatológicos.

À medida que a ciência avança e as regulamentações evoluem, o Brasil pode estar diante de uma oportunidade única: alinhar inovação terapêutica com segurança, eficácia e acesso, promovendo alternativas mais naturais e eficazes para quem convive com doenças de pele crônicas.

Foto: Canva Pro

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