Segunda edição do evento reuniu mais de 36 mil pessoas e 300 marcas para uma apoteótica celebração à cultura canábica
Um vídeo que circulou na internet e mostra uma mulher reagindo ao cheiro de maconha que invade seu apartamento, do outro lado da Rodovia dos Imigrantes, onde fica o espaço que recebeu a ExpoCannabis Brasil 2024, dá uma dimensão do que foi o evento. Não (só) pelo clichê, mas pela representação de uma ideia manifestada coletivamente que se espalha como fumaça e penetra camadas da sociedade então alheias a ela.
A segunda edição da ExpoCannabis Brasil, que aconteceu entre os dias 15 e 17 de novembro, consolida o evento como um marco na cultura canábica. Pensadores, profissionais, artistas, ativistas e entusiastas da planta brotaram na feira, que neste ano ocupou um espaço três vezes maior que a primeira edição, abrigando três palcos, mais de 300 expositores, uma área dedicada ao uso medicinal e outra ao cânhamo, além da área externa, onde a programação musical foi eclética e intensa.
Cultura
Sob o tema ‘Normalizando os múltiplos usos da planta’, a ExpoCannabis não só apresentou uma pluralidade de caminhos e possibilidades para o mercado, como reuniu as vertentes culturais que se identificam com suas particularidades, o que explica a diversidade do público de 36 mil pessoas que passaram por lá ao longo dos três dias de evento.
A capacidade de atrair pessoas interessadas nos mais diferentes segmentos da indústria, do cânhamo industrial ao cultivo, da saúde à moda, do lifestyle à arte, abriu espaço para um evento plural, que reflete a riqueza da cultura associada ao universo canábico.
“A ExpoCannabis Brasil é um marco na cultura canábica e se destaca por criar um espaço inclusivo e inovador, onde a troca de conhecimentos e experiências promove uma compreensão mais ampla e integrada da cannabis em suas múltiplas dimensões”, avalia Larissa Uchida, CEO da ExpoCannabis Brasil.
O ativismo também estava representado, seja em estandes como da Articulação Nacional de Marchas da Maconha ou da Marcha das Favelas, seja nas manifestações das Marchas durante o evento.
Mercado
Apesar dos mais de quinze quilômetros percorridos nos três dias de cobertura do evento, foi impossível conhecer todos os espaços de exposição. Mais de trezentas organizações marcaram presença, entre associações e empresas de tecnologia, comunicação, serviços, varejo e indústria. Dos mais elaborados aos mais simples, os estandes eram rodeados por pessoas em busca de informações, produtos, atividades e, claro, brindes.
Entre os lançamentos que saltaram aos olhos, a startup potiguar Liamba Comitiva recebeu o prêmio de melhor produto da ExpoCannabis Brasil com o primeiro maquinário nacional de pós-colheita para cannabis e cânhamo, uma inovação tecnológica que promete acelerar o processo de beneficiamento das flores para a produção de medicamentos à base de cannabis e abrir novas frentes no agronegócio brasileiro.
“A ideia da HeraCan surgiu pela necessidade da agilidade no processo de pós colheita da associação Reconstruir Cannabis. Ver agora esse reconhecimento pelo nosso trabalho é de uma importância sem igual, mostrando a capacidade que o Nordeste tem no fomento da agroindústria, algo que seja de fato viável do pequeno ao grande produtor, já que incentivamos a cannabis e o cânhamo dentro da agricultura familiar”, conta Felipe Farias, fundador da Liamba Comitiva. “O prêmio de melhor produto na ExpoCannabis Brasil deu visibilidade para que o próprio governo esteja mais presente nas inovações nacionais reconhecendo a realidade do cultivo da planta”.
O prêmio de melhor estande ficou com a tabacaria e headshop Mirage, com um projeto inspirado na cultura indiana e na arquitetura hindu, e o de melhor marca foi dado à aLeda que, comemorando a maioridade neste ano, mostrou a força e potência da marca com estande, shows, distribuição de brindes e ativações super elaboradas.
Informação
Quem foi à ExpoCannabis em busca de conhecimento pôde acompanhar uma verdadeira maratona de palestras, debates, workshops e exibições de filmes em três palcos com programações simultâneas.
A Arena do Conhecimento recebeu temas como comunicação, RD, planejamento jurídico, cultivo, empreendedorismo, cannabis e sexualidade, além de um workshop sensorial oferecido pelo Instituto Santa Planta e um monólogo de Luís Navarro do livro ‘Diamba – Histórias do Probicionismo no Brasil’, de Daniel Paiva.
No Fórum Internacional, rolou a première do filme “Mila na Estrada”, com a presença da Rainha do Haxixe (que permaneceu nos três dias de evento, sempre sorridente e disposta a trocar uma ideia), além de debates sobre o mercado na América Latina, regulamentação, com os deputados estaduais Eduardo Suplicy e Caio França e a deputada federal Sâmia Bomfim, justiça restaurativa, reparação racial e cânhamo, entre outros.
O palco inaugurado nesta edição, dedicado ao uso terapêutico da maconha, trouxe discussões sobre farmácia viva, tratamentos com cannabis para autismo, procedimentos odontológicos e distúrbios neurológicos, sobre cannabis na nutrição e na enfermagem, sobre regulamentação da pesquisa de derivados da planta e muito mais.
Corrente do bem
Seja para curtir um rolê, encontrar amigos e parceiros de negócios, descobrir novidades e tendências ou celebrar um ano de avanços, quem esteve na ExpoCannabis Brasil sentiu o gostinho doce de uma realidade (espero que não muito) distante de um lugar livre de proibicionismo e preconceito. E, de quebra, ainda fez o bem: com as doações dos ingressos solidários, a ExpoCannabis coletou 8 toneladas de alimentos, em parceria com a ONG Ação da Cidadania.
Fotos: Diapazon | ExpoCannabis Brasil.
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