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Estudos apontam o potencial da cannabis no tratamento da neuroinflamação em pacientes com pós-COVID

Revisão da literatura científica encontrou evidências de que os fitocanabinoides da maconha são promissores na mitigação dos sintomas associados à condição

Muitas pessoas que contraem COVID-19 continuam sofrendo sequelas da condição a médio e longo prazo, incluindo dores de cabeça, fadiga, insônia, depressão e ansiedade. Conhecida como Condição Pós-COVID (CPC) ou COVID longa, a condição é complexa e o mecanismo exato por trás de seus sintomas ainda é desconhecido, com a neuroinflamação sendo apontada por estudos como a provável causa da maior parte das manifestações.

Embora não exista um tratamento estabelecido para a pós-COVID, uma pesquisa publicada no International Journal of Molecular Sciences sugere que a cannabis pode ajudar a controlar os sintomas da condição devido às suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, que podem ser benéficas na redução da inflamação.

A COVID longa ou Condição Pós-COVID é definida como sintomas que continuam por três meses após a infecção por SARS-CoV-2 (coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2) e não podem ser explicados por diagnósticos alternativos. Isso levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a atribuir uma classificação específica na CID-10 para a condição, que atinge mais de 10% dos pacientes com COVID.

A CPC afeta vários sistemas do corpo, como respiratório, cardiovascular e neurológico, e pode limitar a capacidade de uma pessoa de realizar atividades básicas. Encontrar um tratamento adequado para a condição é um dos maiores desafios para a saúde pública.

Os pesquisadores realizaram uma revisão exaustiva da literatura e constataram que vários fitocanabinoides da cannabis, incluindo canabidiol (CBD), canabigerol (CBG) e tetraidrocanabinol (THC), demonstram potentes efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, que podem ser benéficos na redução da inflamação neuronal na CPC.

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A pesquisa constatou que o CBD reduz a inflamação e o estresse oxidativo e tem potencial para tratar sintomas neurológicos em pacientes com CPC devido aos seus efeitos imunossupressores, propriedades de modulação de mastócitos (células do sistema imunológico que desempenham um papel importante na resposta inflamatória) e atenuação da dor neuropática.

O CBG, por sua vez, também apresentou propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Em modelos animais, o canabinoide restaurou a perda neuronal, reduziu a inflamação e demonstrou atividade protetora contra a neurodegeneração e a neuroinflamação, tornando-o um potencial tratamento para a CPC.

Já o THC, em combinação com o CBD, exibiu efeitos efeitos anti-inflamatórios em vários modelos de doenças neurológicas, bem como foi eficaz na redução da encefalite (inflamação do cérebro).

Segundo os autores, os compostos de cannabis têm sido utilizados tanto em modelos experimentais quanto em estudos clínicos para o tratamento de diferentes tipos de condições inflamatórias neurológicas e sistêmicas, como encefalite, dor, câncer, diabetes, problemas de pele e lesões renais, gastrointestinais e hepáticas.

“A cannabis ou seus metabólitos, usados isoladamente ou em combinação com outros antioxidantes e estratégias de tratamento, podem servir como adjuvantes eficazes no manejo da neurodegeneração causada por processos inflamatórios e oxidativos em pacientes com COVID-19 e subsequente CPC”, escreveu a equipe de nove pesquisadores, afiliados a várias instituições de pesquisa mexicanas.

Os autores observam, no entanto, que mais estudos experimentais e ensaios clínicos são necessários para validar sua conclusão.

As descobertas são consistentes com uma pesquisa separada, publicada em 2023 no Journal of Clinical Medicine, onde cientistas canadenses concluíram que a cannabis tem o potencial de limitar a suscetibilidade e gravidade das infecções por COVID-19. O estudo também encontrou evidências da eficácia dos canabinoides no tratamento de sintomas associados à CPC, incluindo depressão, ansiedade, insônia, dor e diminuição do apetite.

Um outro estudo, apresentado em outubro do ano passado na conferência anual do Colégio Americano de Médicos do Tórax, descobriu que os consumidores de maconha que contraíram COVID-19 tiveram melhores resultados de saúde e taxa significativamente mais baixa de morte.

Ainda outro estudo, divulgado em 2022 no Journal of Cannabis Research, sugere que a cannabis pode levar à redução da gravidade da COVID-19 e a melhores resultados clínicos, “apesar de um uso concomitante de tabaco cinco vezes maior entre os consumidores de cannabis em comparação com os não consumidores”.

A eficácia da maconha para o tratamento das sequelas da COVID também foi relatada pelo ator Luciano Szafir, que recentemente usou suas redes sociais para falar sobre como a planta o está ajudando a tratar a condição. Segundo Szafir, somente após iniciar o uso da cannabis, ele conseguiu largar um dos dois remédios tarja preta para dormir que passou a utilizar após um período de internações por conta de complicações da doença.

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Imagem em destaque: Esteban López | Unsplash.

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