As outras duas divisões da liga ainda não votaram a reforma, que busca recentrar a saúde dos estudantes-atletas com foco na redução de danos e conscientização
A Associação Nacional de Atletismo Universitário (NCAA) dos Estados Unidos, maior órgão regulador dos esportes intercolegiais do país, removeu a maconha da lista de substâncias proibidas de sua Divisão I. O avanço acontece após a organização chegar ao consenso de que a cannabis não é uma droga que melhora o desempenho.
O Conselho da primeira divisão da NCAA adotou a mudança na quarta-feira, embasando-se na justificativa de que a atual política é ineficaz e que o programa de testes de drogas da liga deve se concentrar em testar substâncias que fornecem uma vantagem injusta ao melhorar o desempenho atlético. Para o órgão, educar os atletas sobre as ameaças à saúde representadas pela maconha é mais eficaz do que uma abordagem de abstinência apenas.
“O programa de testes de drogas da NCAA tem como objetivo focar na integridade da competição, e os produtos de cannabis não fornecem uma vantagem competitiva”, disse Josh Whitman, presidente do conselho, em um comunicado. “O foco do conselho está em políticas centradas na saúde e bem-estar dos estudantes-atletas, em vez de punição pelo uso de cannabis.”
A mudança vem na esteira de uma reforma implementada em 2022, quando a NCAA aumentou o limite permitido de THC para atletas universitários, alinhando-se aos níveis da Agência Mundial Antidoping (WADA), e recomendou que cada divisão considerasse mudanças na atual estrutura de penalidades para estudantes-atletas que testam positivo para o canabinoide.
“Reconsiderar a abordagem da NCAA para testes e gerenciamento de cannabis é consistente com o feedback dos membros sobre como melhor apoiar e educar os estudantes-atletas em uma sociedade com visões culturais e de saúde pública em rápida evolução em relação ao uso de cannabis”, disse Brian Hainline, diretor médico da liga, em um comunicado sobre a mudança em relação ao THC.
Agora, os canabinoides foram totalmente removidos da lista de substâncias proibidas em campeonatos estudantis e participação pós-temporada no futebol. Os efeitos da reforma são retroativos e quaisquer penalidades atualmente cumpridas por estudantes-atletas que testaram positivo para cannabis serão descontinuadas.
“Os canabinoides serão abordados como outras drogas que não melhoram o desempenho, como o álcool”, disse a NCAA em suas redes sociais. “Os membros da NCAA se concentrarão em estratégias de redução de danos ao uso problemático de cannabis, centralizando-se na saúde dos estudantes-atletas.”
A reforma atende a uma recomendação do Comitê de Salvaguardas Competitivas e Aspectos Médicos do Esporte (CSMAS) da NCAA, que submeteu a questão à Cúpula sobre Canabinoides no Atletismo Universitário, realizada em dezembro de 2022. O colegiado sinalizou apoio à mudança em junho passado, quando recomendou que cada um dos três órgãos de governança divisionais adotasse a política, para que a cannabis fosse removida da lista de drogas proibidas da liga.
Em setembro, o CSMAS recomendou formalmente a reforma da política de cannabis, enfatizando que a recomendação “baseia-se num extenso estudo informado por especialistas da indústria e do assunto (incluindo médicos, especialistas em uso indevido de substâncias e profissionais associados)” e visa “recentrar a saúde dos estudantes-atletas”.
Segundo o comitê, a remoção da cannabis da lista de drogas proibidas “reconhece a ineficácia da política existente (proibir, testar e penalizar)”, afirma o papel do programa de testes de drogas da NCAA para “abordar apenas substâncias que melhoram o desempenho” e salienta a “importância de avançar para uma estratégia de redução de danos que dê prioridade à educação e ao apoio a nível escolar em detrimento das sanções”.
A mudança realizada pela NCAA segue um movimento crescente de organizações esportivas que estão reformando suas políticas de cannabis diante das evidências científicas de que a maconha não melhora a performance dos atletas.
O UFC (Ultimate Fighting Championship), por exemplo, anunciou em dezembro sua nova política antidoping, que não considera mais a cannabis uma substância proibida para os lutadores — os atletas já não eram punidos por testes positivos para maconha desde 2021, quando a organização fez mudanças para se adequar à ciência (níveis de THC não têm correlação com o quanto um lutador está afetado), contudo a planta permanecia na lista e a punição poderia ocorrer se evidências adicionais demonstrassem que a substância foi usada pra melhora de performance.
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Imagem de capa: Unsplash | Ben Hershey.