Ilustração de dois perfis que se encontram no centro da imagem e cujas bocas compartilham de uma fumaça. Arte: Papelito

A cannabis tem poderes afrodisíacos?

Conversamos com a ginecologista Mariana Prado sobre a relação entre cannabis e sexo, confira

Transar sob o efeito de maconha é mais gostoso — pelo menos, é o que diz uma pesquisa realizada pela The Harris Poll, que afirma que consumidores adultos de cannabis nos EUA fazem sexo com mais frequência do que os não usuários. A pesquisa também revelou que 65% dos consumidores de cannabis sexualmente ativos concordam que a maconha melhora sua vida sexual e 67% dizem que ajuda a deixá-los com vontade de fazer sexo.

Mas, afinal, os canabinoides têm poderes afrodisíacos? Como a maconha, de fato, influencia nossa vida sexual? Para entender a relação entre a cannabis e o sexo, conversamos com a Dra. Mariana Prado, ginecologista e obstetra que trabalha em prol da descriminalização e regulamentação do uso da Cannabis com foco em dores pélvicas crônicas, sintomas da menopausa e do ciclo menstrual. Confira, a seguir, a entrevista completa.

De que maneira a maconha pode melhorar a vida sexual dos usuários?

Dra. Mariana Prado: Digno de nota, e não menos importante, é necessário que entendamos que a vida sexual é multifatorial e, se existe algum outro tipo de interferência, talvez seja importante identificar todas essas questões.

Embora os estudos ainda sejam limitados e a maior parte deles correlacionem Cannabis e libido por meio de entrevistas com usuários do medicamento, o uso da planta se mostra promissor. Quando avaliamos pacientes que já possuem algum tipo de doença (como dor pélvica crônica na endometriose/adenomiose, cólicas intensas no período menstrual, alterações de humor na TPM ou na menopausa) as evidências se tornam mais robustas pois, se a planta consegue amenizar os sintomas, consequentemente é capaz de melhorar a vida sexual.

Os canabinoides têm poderes afrodisíacos?

Por ser uma erva estimulante, é possível que a Cannabis, quando usada de forma consciente e sem exageros (sugere-se que o uso excessivo tem resposta adversa oposta), auxilie a melhorar a libido. Seja para relaxar, para refinar os sentidos ou melhorar o desejo sexual, seu uso pode ser uma ótima opção com poucos (ou nenhum) efeito colateral maléfico. É preciso lembrar que os canabinoides presentes na planta atuam diretamente nos neurotransmissores cerebrais, ajudando a liberar hormônios que auxiliam na satisfação sexual.

Pode comentar como a cannabis auxilia mulheres que sentem desconforto e dor durante o sexo?

Desde a descoberta do THC e do canabidiol, princípios ativos da Cannabis, os efeitos dessa planta vêm sendo estudados, sobretudo, o papel na modulação da dor exercido pelo sistema endocanabinoide (SEC) (Bonfa et al., 2008; Munro et al., 2008). Este sistema possui dois receptores, C1 e C2, dos quais os C1 podem ser encontrados no sistema nervoso, enquanto os C2 podem ser encontrados em células do sistema imune, o que relaciona o receptor C2 com a dor (Lessa et al., 2019; Munro et al., 2008; Ameri, 1999).

Na literatura, há relato de diversos mecanismos farmacológicos dos endocanabinoides e da ativação dos receptores C1 e C2. O SEC está presente no sistema nervoso periférico e central e atua reduzindo a sensibilidade à dor (Porter e Felder, 2001; Rahn e Hohmann, 2009; Richardson et al., 1997).

A ativação de C1 e a ação dos endocanabinoides estão relacionados a fenômenos que ocorrem na fisiologia da dor, melhorando os sintomas (Rahn et al., 2007; Ibrahim et al., 2005; Williamson, 2004). Ou seja, a ativação desses receptores ativa resposta analgésica e anti-inflamatória/sedativa, além de liberar hormônios do prazer e relaxamento.

Como funcionam os lubrificantes à base de cannabis?

Existem diversas apresentações comerciais, vias de administração e proporções entre THC e canabidiol. Embora a eficácia desse tratamento seja variável, a maioria dos pacientes refere melhora da dor (Russo et al., 2007). No caso do lubrificante, além dele possuir composições que ajudam na lubrificação e hidratação da área íntima (melhorando a dor na penetração, por exemplo), também pode atuar em ação local estimulante e relaxante, além de convidar os usuários a explorar áreas exógenas.

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