Pesquisa revela que maioria dos eleitores, tanto de Lula quanto de Bolsonaro, são contra descriminalizar o uso pessoal da cannabis
A maior parte da população brasileira é contra a descriminalização do porte de maconha para consumo pessoal, segundo uma pesquisa do instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec). O levantamento, realizado entre os dias 4 e 8 de julho, foi divulgado neste domingo pela coluna do Lauro Jardim, n’O Globo.
Segundo os dados do Ipec, que entrevistou 2.000 pessoas em 129 municípios de todos os estados brasileiros, 69% dos entrevistados são contra descriminalizar o uso pessoal da maconha. Apenas 24% responderam que são favoráveis à mudança.
Entre os eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a desaprovação também é majoritária, alcançando 60%, enquanto 32% são a favor de que o porte de cannabis seja descriminalizado.
A rejeição à descriminalização é ainda maior entre as pessoas que votaram em Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, com 81% contra a ideia — 14% disseram ser favoráveis.
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Mais homens (28%) do que mulheres (20%) se posicionaram favoravelmente à descriminalização do porte da maconha para consumo. Os jovens de 16 a 24 anos (38%) se mostraram bem mais favoráveis à mudança do que a faixa etária entre 45 e 49 anos, onde a aprovação é de apenas 16%.
No recorte por religião, 16% dos evangélicos responderam ser favoráveis à descriminalização do porte, enquanto 41% dos que se declararam sem religião disseram o mesmo.
Em relação à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que descriminalizou o porte de cannabis para uso próprio, 67% dos entrevistados desaprovaram a medida, enquanto 27% aprovaram.
O Ipec também perguntou qual a opinião dos entrevistados sobre a seguinte afirmação: “A decisão do STF sobre a descriminalização do porte de maconha para consumo pessoal pode aumentar o tráfico de drogas”. Cinquenta e sete por cento disseram “concordar totalmente”, enquanto 11% afirmaram “concordar em parte”.
A maioria dos entrevistados também apoia que “qualquer pessoa que estiver portando maconha, independentemente da quantidade, deve ser presa”, com 47% “concordando totalmente” e 13% “concordando em parte” com a afirmação — apenas 14% “discordam em parte” e 20% “discordam totalmente”.
Metade das pessoas entrevistadas pelo Ipec ainda discordou, totalmente ou em parte, da afirmação de que “a descriminalização do porte da maconha diminuirá a desigualdade das abordagens policiais e do sistema judicial, principalmente contra pessoas negras e pobres”.
Uma pesquisa separada, realizada em março pelo PoderData, viu metade (50%) dos entrevistados dizer ser “a favor” de o porte da maconha para uso pessoal deixar de ser crime. Já 45% afirmaram ser contrários à descriminalização. Foram entrevistadas 2.500 pessoas em 202 municípios de todas as unidades federativas, entre os dias 23 e 25 de março.
Ainda outro levantamento realizado em março, pelo instituto Datafolha, revelou que 67% dos entrevistados eram contra a descriminalização do porte de maconha. Em contrapartida, 31% se mostraram favoráveis à medida. O Datafolha entrevistou 2.002 pessoas, nos dias 19 e 20 de março, em 147 municípios de todo o país.
“A propaganda da guerra às drogas, que instituiu o traficante como inimigo público número 1, é tão eficiente que eu acho natural que esse número [de brasileiros contrários à descriminalização] esteja em avanço. A maioria das pessoas vai responder a essa pergunta com o maior grau de moralidade possível”, afirmou à Folha, na época, a advogada Cecília Galício, representante da Rede Reforma no Conad (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas).
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Imagem de capa: Vecteezy | khonkangrua.