Vestígios de maconha em ossos humanos sugerem que a cannabis era utilizada na Itália do século XVII

Os pesquisadores acreditam que a maconha era usada com o intuito de relaxamento ou automedicação, visto que não foram encontrados registros da planta em documentos médicos da época
Cientistas da Itália descobriram evidências do uso de maconha nos restos mortais de moradores de Milão que viveram durante o século XVII. O estudo de esqueletos em um cemitério da época revelou vestígios de THC e CBD nos fêmures de uma mulher de 50 anos e de uma adolescente.
Esta evidência denota o uso histórico da maconha para fins não médicos e desafia a crença anterior de que a cannabis não era consumida na Itália após a proibição papal em 1484.
Na Idade Média, a cannabis era utilizada para fins medicinais, até que o papa Inocêncio VIII proibiu o seu uso, justificando que a cannabis é como um “sacramento ímpio”. Este decreto e outras proibições ao longo da história geraram um estigma cultural contra a planta.
Itália Antiga e as descobertas de maconha em esqueletos
O estudo, publicado no Journal of A Archeological Science, analisou nove ossos de fêmur do cemitério de Milão. Dois destes ossos apresentavam vestígios de canabinoides.
“Os resultados obtidos em amostras ósseas mostraram a presença de duas moléculas, delta-9-THC e CBD, destacando a administração de cannabis. Estes resultados, até onde sabemos, constituem o primeiro relatório sobre a detecção de cannabis em vestígios osteológicos humanos históricos e arqueológicos”, descreve o artigo.
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As conclusões do estudo
Os cientistas sugerem que a cannabis era usada para “fins recreativos” (uso social), pois não foram encontrados registros dela em documentos médicos da época. Especula-se que, dadas as duras condições de vida do século XVII, as pessoas utilizavam a cannabis como forma de relaxamento e fuga.
A Itália também foi um importante produtor de cânhamo para diversos usos, incluindo têxteis e cordas. A popularidade histórica provavelmente influenciou o uso social de cannabis. É o que acredita Marco Peruca, ex-senador italiano, fundador da Ciência para a Democracia e líder do referendo ocorrido em 2021 para legalizar a cannabis na Itália.
Esta recente descoberta destaca a importância dos estudos arqueotoxicológicos na reconstrução histórica. “Existem muito poucos laboratórios que podem examinar ossos em busca de vestígios de drogas”, disse Gaia Giordano, bióloga e estudante de doutorado do Laboratório de Antropologia e Odontologia Forense da Universidade de Milão. Por isso, é necessário aumentar as pesquisas sobre restos mortais, a fim de obter informações sobre o uso de substâncias ao longo do tempo e assim ampliar a visão do que se conhece.
Por Lucía Tedesco, originalmente publicado no El Planteo.
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Imagem de capa: Laboratório de Antropologia e Odontologia Forense da Universidade de Milão.
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