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Foto mostra a barriga de uma pessoa grávida, que aparece de lado. Imagem: freestocks | Unsplash.

Uso de maconha na gravidez está associado a riscos para a mãe, segundo estudo

O consumo diário de cannabis durante a gestação está relacionado a chances ainda maiores de as mães terem hipertensão gestacional, de acordo com o estudo

As taxas de uso de maconha durante a gravidez vêm aumentando nos Estados Unidos nos últimos anos, com mulheres grávidas relatando o uso de cannabis para ajudar com o sono, depressão, estresse, enjoo matinal e dor, sendo que muitas percebem a planta como uma alternativa mais segura aos medicamentos prescritos.

No entanto, estudos já demonstraram que o uso pré-natal de cannabis está associado a aumentos no risco de resultados adversos à saúde fetal e neonatal, como, por exemplo, menor peso ao nascer e parto prematuro. O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, por sua vez, recomenda que pessoas grávidas se abstenham de usar maconha.

Agora, um novo estudo revela que o consumo de cannabis durante a gestação está associado a um risco aumentado de complicações para a saúde materna, como hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia, que é um problema grave relacionado com o aumento da pressão arterial de grávidas. Os resultados foram publicados nesta segunda-feira no periódico JAMA Internal Medicine.

“Essas descobertas são preocupantes, pois se somam a um crescente corpo de evidências de que a cannabis não é segura para uso durante a gravidez”, disse Kelly Young-Wolff, uma das autoras do estudo e cientista da divisão de pesquisa da Kaiser Permanente, em um comunicado.

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Usando dados de saúde da Kaiser Permanente Northern California, sistema integrado que fornece assistência médica a 4,6 milhões de pessoas, as pesquisadoras analisaram os dados de mais de 250.000 grávidas que foram questionadas sobre seu uso de maconha quando iniciaram o pré-natal (aproximadamente entre 8 e 10 semanas de gravidez) e submetidas a exames de urina para detecção de THC.

Mais de 20.000 participantes foram identificadas como usuárias de cannabis por apresentarem resultado positivo para uso pré-natal da planta por autorrelato ou teste toxicológico. A frequência do uso de maconha foi de: 1.930 diariamente, 2.345 semanalmente e 4.892 mensalmente ou menos, enquanto 10.886 tiveram um resultado positivo no exame, mas não relataram o uso.

A análise revelou que as participantes que usaram cannabis durante o início da gravidez tiveram um risco 17% maior de hipertensão gestacional, um risco 8% maior de pré-eclâmpsia e um risco 19% maior de descolamento prematuro da placenta, em comparação com aquelas que não consumiram a planta. O padrão de resultados foi semelhante ao definir o uso pré-natal de maconha apenas por autorrelato ou apenas por testes toxicológicos.

A hipertensão gestacional consiste em pressão arterial acima de 140/90 após a vigésima semana de gravidez, que costuma desaparecer até dez dias após o parto. A pressão alta durante a gestação “pode diminuir o fluxo sanguíneo no fígado, rins, cérebro, útero e placenta”, de acordo com o Stanford Medicine.

Já a pré-eclâmpsia é uma doença caracterizada pelo desenvolvimento disfuncional da placenta. “Isso faz com que o órgão, depois do quinto mês de gravidez, passe a jogar na circulação uma série de produtos que levam ao comprometimento de toda a vascularização da mulher, gerando uma grande resposta inflamatória, que combinada com os vasos sanguíneos vão levar como sinal clínico mais importante o desenvolvimento de hipertensão arterial. E a partir desse quadro essas mulheres passam a ter comprometimento de órgãos como fígado, rins, cérebro, pulmões, coração”, explica o professor Leandro Gustavo de Oliveira, da Faculdade de Medicina da Unesp Botucatu.

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O descolamento prematuro da placenta é uma condição que ocorre quando a placenta se separa da parede do útero antes do nascimento do bebê. Isso pode privar o bebê de oxigênio e nutrientes essenciais, bem como resultar em hemorragia na mãe, representando um risco para ambos. A condição pode levar à morte tanto da gestante quanto do bebê.

Em relação ao ganho de peso considerado ideal para uma gravidez saudável, as participantes que usaram cannabis durante o início da gestação tiveram 5% mais chances de ganhar menos peso do que o recomendado e 9% mais chances de ganhar muito peso durante a gravidez, segundo o estudo.

Os resultados foram consistentes com outro grande estudo que descobriu que pessoas com transtorno por uso de cannabis tinham maior risco de hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia. Segundo as pesquisadoras, isso sugere que o uso mais frequente representa um maior risco à saúde.

“Em nosso estudo, houve evidências de uma associação dose-resposta entre a frequência do uso autorrelatado de cannabis e hipertensão gestacional, com o maior risco associado ao uso diário de cannabis”, escreveram.

Segundo a médica Lyndsay Avalos, autora sênior do estudo e cientista do departamento de pesquisa da Kaiser Permanente, as descobertas relacionadas à frequência de uso oferecem uma mensagem para a redução de danos. “Para pacientes que não estão dispostas a parar de usar cannabis durante a gravidez, diminuir o uso pode representar um risco menor de complicações na gravidez”, afirmou a pesquisadora.

A equipe concluiu que suas descobertas “sugerem uma associação complexa entre o uso pré-natal de cannabis e a saúde materna e destacam a necessidade de pesquisas contínuas para entender os mecanismos pelos quais o uso pré-natal de cannabis está associado à saúde de gestantes”. “O uso pré-natal de cannabis é um fator de risco para resultados neonatais adversos”, ressaltaram.

Entretanto, o estudo não está livre de limitações, pois a amostra foi limitada a pacientes grávidas seguradas em uma grande organização de assistência médica na Califórnia, e os achados podem não ser generalizados para pacientes sem seguro ou aquelas fora do estado, que legalizou a maconha medicinal em 1996 e o uso adulto em 2016. As pesquisadoras também não conseguiram determinar se o uso pré-natal de cannabis ocorreu apenas antes do reconhecimento da gravidez ou continuou mais tarde, considerando que os testes toxicológicos podem ter detectado o uso antes da gravidez.

Dito isso, uma revisão da literatura científica, publicada em 2016 na Obstetrics & Gynecology, não encontrou nenhuma conexão independente entre o uso de maconha pela mãe e eventos adversos no parto. Segundo os pesquisadores, a análise de 31 estudos que avaliaram os efeitos do uso materno de cannabis em desfechos neonatais adversos aponta que a associação parece atribuível ao uso concomitante de tabaco e outros fatores de confusão.

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Imagem de capa: freestocks | Unsplash.

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