Governo de Sergipe estuda parceria com universidade e associação para produzir medicamentos de cannabis

Foto, tirada de cima pra baixo, mostra dois frascos, um fechado e outro aberto, contendo substância amarelada, junto a um conta-gotas contendo um pouco de óleo e uma pequena folha de maconha (cannabis), sobre uma superfície cinza-clara irregular. Imagem: Freepik. CBD dermatite

Objetivo é tornar o Estado de Sergipe independente tanto em estudos quanto em desenvolvimento de produtos medicinais à base de cannabis — lei estadual garante o acesso ao tratamento com o uso da planta

Pensando em contribuir com a implantação de políticas públicas e desenvolvimento tecnológico sobre a cannabis, a Universidade Federal de Sergipe (UFS) fechou um acordo de cooperação técnica com a Associação Brasileira de Apoio ao Cultivo e Pesquisa de Cannabis Medicinal (Salvar).

Isso por que foi aprovada pela Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) e sancionada pelo Governo do Estado, em abril deste ano, uma lei que institui a Política Estadual de Cannabis para fins terapêuticos. A promulgação ocorreu pouco mais de duas semanas após a Salvar obter autorização da Justiça Federal para cultivar, manipular e pesquisar a maconha para finalidade medicinal e de pesquisa científica.

Agora, uma parceria entra a Secretaria de Estado da Saúde (SES), a UFS e a Salvar pretende criar o Núcleo de Análise, Melhoramento, Produção, Investigação e Transferência Tecnológica em Cannabis de Sergipe (Cannabise). Os representantes das entidades se reuniram nesta terça-feira (7) para avaliar a viabilidade de implantação do projeto no estado.

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O secretário de Estado da Saúde de Sergipe, Walter Pinheiro, ressaltou que neste mês de novembro a SES trará novidades em relação ao andamento da implantação dos produtos à base de cannabis. “Vamos lançar ainda este mês o primeiro protocolo, que possui uma melhor evidência científica até o presente momento, que nos dá mais segurança para a distribuição”, afirmou, segundo nota oficial do governo.

De acordo com Pinheiro, também será aberta consulta pública para que a sociedade civil possa se manifestar com suas contribuições, uma vez que o Governo de Sergipe pretende avançar dentro dessa política, “que é bastante vencedora no que diz respeito à saúde e à qualidade de vida das pessoas”.

Além disso, será inaugurado um ambulatório para acolher esses pacientes que “não mais necessitarão procurar o judiciário para ter acesso a estes produtos”, explicou o secretária sergipano, pois os medicamentos de cannabis serão distribuídos à população através da parceria com a Salvar e a UFS.

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Segundo o pró-reitor de pós-graduação da UFS, Lucindo Quintans, a união entre o governo do estado e as entidades é uma oportunidade muito relevante para a formação de recursos humanos na área, bem como o desenvolvimento de estudos clínicos que possam melhorar a qualidade de vida dos pacientes, muitas vezes com doenças sem tratamento. “O mundo hoje tem se debruçado na questão do uso da cannabis medicinal, e Sergipe, não obstante, também vem focando no desenvolvimento de projetos alinhados em parceria com o Estado, universidade e sociedade”, assinalou o professor.

Segundo Quintans, a primeira conversa do grupo de trabalho que está sendo formado é para a construção de um projeto que possa tornar Sergipe independente tanto em estudos quanto em desenvolvimento de produtos medicinais relacionados à cannabis.

Para o coordenador e pesquisador do Cannabise, José Ronaldo dos Santos, o projeto colocará Sergipe no pioneirismo do envolvimento direto do estado na produção de medicamentos a serem distribuídos à população que necessita de tratamento com os derivados da maconha. “A proposta visa possibilitar a produção de medicamentos à base de Cannabis sativa e atender a um número maior de pacientes que fazem uso desses produtos, com um custo menor para o Estado. Assim, o nosso objetivo é aumentar a produção e diminuir os custos dos medicamentos à base de cannabis e seus derivados em Sergipe e garantir o padrão de qualidade dos produtos produzidos pela Associação Salvar”, destacou o coordenador.

A coordenadora da Assistência Farmacêutica da SES e membro do Grupo Técnico de Trabalho, Juliana Santos, ressalta que a proposta do grupo é transformar a teoria trazida pela lei em prática efetiva dentro do SUS. “Temos trabalhado junto com a Universidade Federal de Sergipe para alinharmos os próximos passos para a implantação dessa inovação para a saúde dos sergipanos”, explanou.

Em setembro, a UFS recebeu em seu Campus de Lagarto o I Congresso Sergipano Multidisciplinar de Cannabis para Fins Medicinais. O evento, que contou com o apoio da Associação Salvar, da Liga Acadêmica de Endocanabinologia de Sergipe e do Movimento Popular de Saúde, contribuiu com embasamento científico para a regulamentação da política estadual de cannabis.

A lei sancionada em Sergipe também assegura a produção e a disseminação de conhecimento científico e de informações acerca da cannabis, através do incentivo à produção de pesquisas, estímulo a eventos científicos e outros meios educativos de divulgação, bem como fomenta a educação em saúde para orientar os profissionais da área e pacientes sobre os produtos de cannabis.

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Imagem de capa: Freepik.

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