Pacientes trocam medicamentos soníferos por maconha e afirmam acordar mais revigorados, segundo estudo

A cannabis proporcionou uma boa noite de sono e sem os efeitos colaterais provocados pelos soníferos convencionais, relataram os participantes de um novo estudo
A maioria das pessoas que relataram usar maconha para ter uma melhor noite de sono em um novo estudo parou de usar medicamentos para dormir após o uso da cannabis, relatando melhores resultados e menos efeitos colaterais na manhã seguinte. Os participantes também tinham uma forte preferência por fumar ou vaporizar flores com THC, CBD e o terpeno mirceno.
Os entrevistados relataram mais comumente sentir-se revigorados, concentrados e mais capazes de funcionar pela manhã após o uso de maconha, além de sentirem menos dores de cabeça e menos náuseas, em comparação com quando usavam soníferos convencionais. No entanto, também ocorreram alguns efeitos colaterais decorrentes do consumo de cannabis, como acordar com mais sonolência e irritação pela manhã.
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Publicado recentemente no periódico Exploration of Medicine, o estudo foi conduzido por pesquisadoras da Universidade Estadual de Washington (WSU). As autoras acreditam que as descobertas têm implicações médicas e clínicas para pessoas que sofrem de problemas relacionados ao sono, proporcionando aos profissionais de saúde uma melhor compreensão da razão pela qual a maconha tem sido usada em detrimento de auxiliares de sono tradicionais.
“As descobertas do estudo atual indicam que a cannabis ajuda a relaxar a mente e o corpo, além de ajudar a alcançar um sono mais profundo, mais longo e ininterrupto”, escreveram as pesquisadoras. “Estas descobertas são consistentes com a literatura mais ampla que demonstra que a cannabis é frequentemente relatada para aliviar o estresse e a tensão, bem como com algumas evidências empíricas que sugerem que a cannabis é eficaz na melhoria de medidas objetivas de distúrbios do sono.”
O estudo analisou as respostas de 1.216 pessoas que responderam uma pesquisa usando o aplicativo Strainprint. Mais de 80% dos participantes relatou que tinha dificuldade em adormecer, sendo que 65% disseram que sofriam de problemas de sono há mais de cinco anos, enquanto quase 70% afirmaram usar maconha para dormir melhor durante pelo menos um ano. A maioria dos entrevistados (68%) relatou ainda usar cannabis como auxiliador do sono todas as noites.
A grande maioria dos participantes relatou que a maconha ajuda a relaxar a mente (83%) e o corpo (81%). Uma pluralidade dos entrevistados (56%) disse que a cannabis os ajuda a dormir mais profundamente, enquanto quase 42% afirmaram que os ajuda a dormir mais e 36% que lhes proporciona um sono ininterrupto.
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Quase 82% dos participantes relataram não usar mais remédios para dormir prescritos ou de venda livre, enquanto 60% disseram ter usado esses medicamentos no passado. Apenas 8% afirmaram fazer uso de soníferos em combinação com a maconha.
“Em geral, o uso de cannabis para questões relacionadas ao sono foi percebido como mais vantajoso do que medicamentos vendidos sem receita médica ou soníferos prescritos”, disse Carrie Cuttler, coautora do estudo e professora de psicologia na WSU, em um comunicado à imprensa. “Ao contrário dos sedativos de ação prolongada e do álcool, a cannabis não foi associada a um efeito de ‘ressaca’, embora os indivíduos tenham relatado alguns efeitos persistentes, como sonolência e alterações de humor.”
A maioria dos entrevistados relatou que prefere fumar baseados (46,1%) ou vaporizar flores de maconha (42,6%) para dormir, o que as pesquisadoras disseram que pode ser “devido à curta latência de início da inalação e à alta porcentagem de entrevistados que indicaram dificuldade em adormecer”.
Os participantes também afirmaram usar cannabis na forma de óleo (42,5%), produtos comestíveis (35%), através de canetas vaporizadoras (34%) e por meio de cápsulas (14,6%). Segundo as autoras, os resultados são consistentes com uma pesquisa transversal sobre os padrões de consumo de maconha medicinal, “que revelou que a inalação é o método de consumo mais comum”.
Ao mesmo tempo, as pesquisadoras disseram que ficaram surpresas com o fato de a minoria dos entrevistados relatar o uso de comestíveis ou cápsulas, “pois são mais duradouros e, como tal, podem ser mais benéficos para a manutenção do sono”.
Em relação aos tipos de produtos de cannabis, a maioria dos entrevistados teve preferência por produtos com alto teor de THC (60%), enquanto 21,7% relataram preferir uma proporção equilibrada de THC:CBD. Outros 5,3% indicaram o uso de produtos ricos em CBD.
Já sobre os compostos da cannabis, em relação aos canabinoides usados para dormir, 78,8% dos participantes afirmou preferir o THC, 47,1% relataram procurar o CBD e 18,1% indicaram o CBN (canabinol). Quanto aos terpenos, quase metade dos entrevistados (49%) apontou para o mirceno, enquanto o linalol (26,9%), o limoneno (24,7%), o cariofileno (19,1%) e o terpinoleno (13,5%) também foram citados.
“Uma das descobertas que me surpreendeu foi o fato de que as pessoas procuram o terpeno mirceno na cannabis para ajudar no sono”, disse Cuttler. “Existem algumas evidências na literatura científica que apoiam que o mirceno pode ajudar a promover o sono, por isso os usuários de cannabis parecem ter descoberto isso por si próprios.”
Os participantes que já fizeram o uso de ambos os tipos de auxiliadores de sono (maconha e medicamentos soníferos) também foram solicitados a relatar os efeitos colaterais que experimentaram ao usar cada tipo. Segundo o artigo, um número significativamente maior de entrevistados relatou sentir olhos vermelhos e sede ao usar cannabis em comparação com os remédios para dormir.
“Em contraste, um número significativamente maior de participantes relatou sentir náuseas, ansiedade e batimentos cardíacos acelerados ao usar medicamentos para dormir sem receita médica ou auxiliadores de sono prescritos em comparação com a cannabis”, apontaram as autoras, observando que mais participantes relataram a paranoia como efeito colateral dos remédios de prescrição do que da cannabis.
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As pesquisadoras também descobriram que mais de 60% dos participantes do estudo relataram dormir de seis a oito horas quando consumiam apenas maconha. No entanto, menos de 20% relatou dormir de seis a oito horas após o uso de um medicamento para dormir, sozinho ou em combinação com a cannabis.
De forma geral, levando em conta os prós e contras observados no uso da maconha e de soníferos convencionais, a cannabis se mostrou melhor como auxiliador do sono.
“Esses efeitos secundários podem ser menos graves ou prejudiciais do que os efeitos colaterais que experimentam com outros soníferos e, portanto, contribuem para a percepção de que a cannabis é superior aos soníferos mais convencionais”, escreveram as pesquisadoras.
A maioria das descobertas foi favorável ao uso de maconha para dormir, contudo as autoras alertam que o estudo tem um forte viés de seleção para as pessoas que já usavam cannabis porque a consideravam benéfica. “Nem todo mundo vai descobrir que a cannabis ajuda no sono e pesquisas futuras precisam empregar medidas mais objetivas do sono para fornecer uma compreensão mais abrangente dos efeitos da cannabis no sono”, disse Cuttler no comunicado.
Os achados são consistentes com estudos anteriores onde os pacientes relataram dormir melhor com o uso da maconha. Uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade de Sydney, por exemplo, viu a maioria dos participantes reconhecendo o uso de cannabis para mitigar os sintomas da insônia e que a planta melhorou muito a qualidade do sono — a maioria dos entrevistados também relatou ter diminuído o consumo de benzodiazepínicos e álcool após o uso da maconha.
Considerando que muitos indivíduos com transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) usam cannabis para tratar distúrbios do sono, um outro estudo, liderado por cientistas da Universidade de Haifa, avaliou a associação entre o uso de maconha prescrita e o sono usando um método de diário eletrônico. Os resultados revelaram que o uso de cannabis próximo da hora de dormir foi associado a uma menor probabilidade de ter pesadelos.
Ainda outro estudo, publicado no ano passado na BMC Psychiatry, observou como muitos indivíduos com depressão, ansiedade ou ambas as condições que usam maconha para insônia relatam melhorias significativas na gravidade dos sintomas após o uso da planta.
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Fotografia de capa: Cannabis Urlaub | Flickr.

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