O futuro desse mercado no Brasil depende da nossa capacidade de continuar inovando, superando as barreiras existentes e garantindo que mais pessoas possam se beneficiar dos avanços da medicina canábica
O mês de junho trouxe um momento significativo para a cannabis medicinal no Brasil, com o Governo de São Paulo iniciando a distribuição gratuita de medicamentos à base de canabidiol (CBD) pelo SUS. Pacientes com condições graves como síndrome de Dravet, Lennox-Gastaut e esclerose tuberosa agora têm acesso a esses tratamentos. Essa medida não só representa um avanço no acesso a terapias inovadoras, mas também levanta questões sobre a expansão e o futuro do mercado de cannabis no Brasil.
O CBD, uma das substâncias extraídas da cannabis, é conhecido por seus efeitos anticonvulsivos e analgésicos, sendo particularmente eficaz no tratamento de epilepsias refratárias. Desde a década de 1970, estudos robustos já demonstram a eficácia do CBD para reduzir crises convulsivas em crianças com epilepsia, oferecendo uma melhora substancial na qualidade de vida tanto para os pacientes quanto para suas famílias.
No entanto, a inclusão do CBD no SUS é restrita a apenas três condições neurológicas, em parte devido à robustez dos estudos disponíveis que comprovam sua eficácia nesses casos específicos. Isso reflete tanto o avanço quanto as limitações atuais da medicina canábica no Brasil, onde, apesar de existir um crescente reconhecimento dos benefícios terapêuticos da cannabis, o acesso e a prescrição ainda são limitados por barreiras burocráticas e preconceitos.
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O custo elevado dos medicamentos à base de cannabis continua sendo uma barreira significativa. Enquanto um frasco de 60 ml de óleo de CBD pode custar até R$ 2 mil nas farmácias brasileiras, a importação direta, prevista pela RDC 660/2022 da Anvisa, pode reduzir esse custo para cerca de R$ 600. A inclusão no SUS, portanto, não só amplia o acesso ao tratamento como também representa uma vitória para os pacientes que lutaram durante anos para que o canabidiol fosse reconhecido como uma terapia eficaz.
Apesar desses avanços, o mercado de cannabis medicinal no Brasil ainda está em fase inicial. A entrada de grandes farmacêuticas, como Eurofarma e Aché, sinaliza um interesse crescente e potencial de crescimento do setor. Em 2024, espera-se que o mercado ultrapasse a marca de R$ 1 bilhão, com projeções que indicam um possível movimento de mais de R$ 9,5 bilhões anuais nos próximos anos.
No entanto, para que esse potencial se concretize, é crucial que o mercado continue a se adaptar às novas realidades e necessidades dos pacientes. A diversidade dos tratamentos disponíveis, seja nas farmácias, associações ou por meio da importação, precisa ser reconhecida e integrada ao sistema de saúde, garantindo que todos os pacientes tenham acesso ao tratamento mais adequado.
Organizações como a Kaya Mind, universidades e associações desempenham um papel fundamental na disseminação de informações e na promoção de um mercado seguro e acessível de cannabis medicinal.
Imagem de capa: freepik.
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