Marrocos deu um passo histórico na regulamentação da cannabis ao exportar, pela primeira vez, resina de cannabis para a Suíça com fins medicinais. Esse marco simboliza a transição do país de um mercado clandestino para um modelo legalizado e regulamentado, beneficiando agricultores e fortalecendo a economia nacional. No entanto, a implementação dessa mudança ainda enfrenta desafios no Rif, região historicamente conhecida pelo cultivo ilegal da planta.
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A Primeira Exportação de Resina de Cannabis para a Suíça
Em 19 de fevereiro de 2025, a primeira remessa oficial de resina de cannabis marroquina chegou ao Aeroporto de Genebra, na Suíça. Essa exportação foi fruto de uma parceria entre a empresa suíça Medropharm AG e um produtor marroquino, com apoio da Embaixada da Suíça em Rabat. O objetivo é estabelecer uma cadeia de fornecimento internacional que atenda aos rigorosos padrões farmacêuticos.
Claudia Zieres-Nauth, CEO da Medropharm AG, destacou a relevância dessa conquista: “Pela primeira vez, um produto que historicamente esteve ligado à economia informal entra oficialmente no mercado farmacêutico internacional”. Esse avanço ocorre após a promulgação da Lei 13-21 em 2021, que legalizou o cultivo de cannabis para fins medicinais e industriais em Marrocos.
O Potencial Econômico da Cannabis Legalizada
A legalização do cultivo abre um novo horizonte para os agricultores marroquinos, especialmente no Rif, região que há séculos depende da produção de cannabis. O governo estima que as exportações de cannabis medicinal possam gerar entre 4 e 6 bilhões de dólares anuais até 2028. Fatores como o clima favorável, a expertise dos agricultores e a proximidade geográfica com a Europa posicionam Marrocos como um futuro líder na produção legal de cannabis.
Segundo o Ministério do Interior, um agricultor que adere ao cultivo legalizado pode alcançar um rendimento líquido anual de aproximadamente 110.000 dirhams por hectare, um aumento de pelo menos 40% em relação ao cultivo clandestino. Além disso, a regularização atrai investimentos estrangeiros e promete gerar novas oportunidades de emprego, impactando positivamente mais de 60.000 famílias na região norte do país.
Os Desafios da Transição para um Mercado Regulamentado
Apesar das perspectivas promissoras, a transição para um mercado regulamentado enfrenta obstáculos significativos. Muitos agricultores ainda hesitam em aderir ao novo modelo devido à burocracia e ao temor de perder clientes no mercado informal. Além disso, a legislação marroquina ainda precisa de ajustes, já que leis antigas de 1974 continuam criminalizando o cultivo de cannabis.
Segundo artigo do El País, em agosto de 2024, o rei Mohamed VI concedeu indulto a cerca de 5.000 pessoas envolvidas no cultivo e na distribuição ilegal de cannabis. Esse gesto buscou aliviar as tensões no Rif e incentivar os agricultores a migrarem para o mercado legal. No entanto, a mudança requer incentivos adicionais para garantir que pequenos produtores não sejam excluídos em favor de grandes corporações.
A Agência Nacional de Regulação das Atividades Relacionadas ao Cannabis (ANRAC) tem um papel fundamental nesse processo, supervisionando a produção e estabelecendo padrões de qualidade. A exigência de que a cannabis medicinal tenha um teor de THC inferior a 1% é um dos desafios para os produtores, visto que os limites europeus para produtos cosméticos e terapêuticos são de 0,3%.
Marrocos como Potência da Cannabis Medicinal
Com o crescente interesse global pelo mercado de cannabis medicinal, Marrocos se posiciona como um dos principais fornecedores mundiais. O sucesso dessa transição depende do equilíbrio entre regulamentação e apoio aos agricultores locais, garantindo que o país aproveite seu potencial econômico sem deixar para trás aqueles que historicamente sustentaram essa indústria.
A exportação de resina de cannabis para a Suíça marca apenas o começo de uma nova era para Marrocos. Se bem conduzida, a regulamentação pode transformar a economia do Rif, melhorar a qualidade de vida dos agricultores e consolidar o país como referência no setor de cannabis medicinal.
Fotos: EFE
