A cannabis pode fornecer alívio para aqueles que sofrem de dor crônica, distúrbios do sono e depressão, permitindo que interajam melhor com seus filhos, de acordo com o estudo
O acesso à maconha para fins medicinais pode melhorar a parentalidade ao proporcionar mais saúde aos pais e aumentar o tempo de criação dos filhos, segundo um estudo publicado na semana passada no Journal of Applied Economics.
A legalização da cannabis para uso medicinal também “reduz o tempo inativo e melhora o sono, consistente com os benefícios da maconha medicinal para a saúde”, diz o artigo, que examinou as consequências da implementação de leis estaduais de cannabis medicinal nos Estados Unidos no uso do tempo pelos pais.
“Nossos resultados sugerem que a legalização da maconha medicinal pode ter um impacto positivo significativo no desenvolvimento das crianças por meio do aumento do tempo de criação dos filhos, especialmente para aquelas com menos de 6 anos, um período caracterizado por altos retornos de longo prazo para o investimento parental”, conclui o estudo, segundo o Marijuana Moment.
No entanto, o relatório ressalva que a melhora da parentalidade em decorrência do acesso à cannabis medicinal só ocorre “se os pais não abusarem da maconha”.
“A maconha pode fornecer benefícios médicos para aqueles que sofrem de dor crônica, distúrbios do sono, depressão e TEPT, permitindo que os pais interajam melhor com seus filhos”, diz o artigo.
A pesquisa foi conduzido por Cynthia Bansak, do departamento de economia da Universidade St. Lawrence, e Jun Hyung Kim, da Escola de Humanidades Digitais e Ciências Sociais Computacionais do Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia. Os autores também representam a Global Labor Organization.
As descobertas revelam que os aumentos no tempo de criação dos filhos “são significativos em atividades ativas de cuidado infantil que exigem menos esforço dos pais, como brincar com a criança, e em cuidados infantis passivos, nos quais os pais cuidam das crianças enquanto se envolvem em alguma outra atividade”.
“Embora se saiba que o cuidado ativo das crianças promove o desenvolvimento infantil”, apontaram os pesquisadores, “os estudos também mostram efeitos positivos do tempo de cuidado passivo no desenvolvimento das crianças que são distintos dos efeitos do tempo de cuidado ativo”.
O cuidado ativo com as crianças, segundo os autores, inclui o tempo em que os pais cuidavam ativamente das crianças, brincando com elas ou se dedicando a atividades escolares, por exemplo. O cuidado passivo, por sua vez, refere-se ao tempo que os pais passam principalmente envolvidos em outras atividades enquanto estão na presença da criança.
“Os efeitos são maiores para aqueles que têm mais probabilidade de se beneficiar do uso medicinal da maconha e para subamostras com maior tempo de criação dos filhos na linha de base, como pais que têm filhos menores de seis anos. Os efeitos do tratamento correspondem a 8% a 12% da lacuna no tempo dos pais em cuidados infantis entre pais com alguma educação universitária e pais com menos que educação universitária”, escreveram os pesquisadores.
O estudo comparou grupos diferenciados pelo nível de educação e observou que pais com alguma educação universitária normalmente passam mais tempo na criação dos filhos do que aqueles com menos educação universitária. As mães e pais com nível educacional universitário apresentaram 4 minutos a mais de cuidados infantis ativos e 10 minutos a mais de cuidados infantis passivos.
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Os pesquisadores utilizaram dados da Pesquisa Americana de Uso do Tempo (ATUS) da Secretaria de Estatísticas Trabalhistas (Bureau of Labor Statistics) dos EUA entre 2003 e 2019. A pesquisa coleta dados sobre atividades diárias de todos os segmentos da população com perguntas sobre como as pessoas gastam seu tempo.
“Medidos por horas de trabalho, pais que não trabalham gastam 22 min a mais do que pais que trabalham em cuidados infantis ativos (por status de emprego autorrelatado, a diferença é de 14 min). Então, o efeito do tratamento no tempo de cuidados infantis ativos representa 18% da lacuna entre pais que trabalham e não trabalham, e o efeito no tempo de cuidados infantis passivos representa cerca de 7% da diferença entre pais que trabalham e não trabalham”, diz o relatório.
Os autores não encontraram “nenhuma evidência” de que a legalização da maconha medicinal “impactou negativamente os usos produtivos do tempo gasto na produção doméstica e no trabalho de mercado”. “Também não encontramos aumento do uso do tempo no uso de tabaco e drogas ou em assistência médica paga”, escreveram.
Uma das principais limitações do estudo apontadas pelos pesquisadores é fato de que os dados da ATUS não incluem informações sobre o uso de cannabis no nível individual. “Além disso, os resultados devem ser interpretados no contexto dos EUA, que lidera o mundo no consumo de analgésicos opioides, um substituto potencial para a maconha medicinal. A legalização da maconha medicinal pode ter permitido que os pacientes migrassem dos analgésicos opioides para a maconha medicinal menos prejudicial”, observaram.
Estudos epidemiológicos sobre os efeitos da legalização da maconha sobre a parentalidade ainda são escassos e limitados. Uma revisão de 2022, publicada na Preventive Medicine, sugere que a legalização leva ao aumento do uso de cannabis entre os pais, porém não encontrou evidências de que a mudança de política tenha causado algum efeito sobre o abuso e negligência infantil, uma preocupação levantada por grupos proibicionistas.
Um estudo publicado em março, no Review of Economics of the Household, descobriu que os estados americanos que legalizaram a maconha medicinal tiveram uma redução de quase 20% nas entradas de crianças no sistema de assistência social relacionadas ao abuso de drogas pelos pais, no segundo ano após a legalização, seguido por uma redução de aproximadamente 30% no terceiro e quarto anos. Já nos estados que permitiram o uso adulto da cannabis, não houve mudança correspondente no número de entradas em lares adotivos.
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Imagem de capa: Pexels | Ron Lach.