Frente parlamentar em defesa da cannabis do RS realiza primeiro encontro estadual

Fotografia de duas inflorescências de um cultivo de cannabis (maconha) com foco em uma delas, que está na parte esquerda do primeiro plano, e, ao fundo, desfocado, um ambiente natural.

Primeiro encontro estadual da Frente Parlamentar em Defesa da Cannabis Terapêutica reuniu pacientes, médicos, cientistas e associações para debater o uso medicinal da maconha; para o deputado Leonel Radde (PT), idealizador do grupo, a pauta é universal e rompe barreiras ideológicas

A Frente Parlamentar em Defesa da Cannabis Terapêutica da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul realizou nesse sábado (7) seu primeiro encontro estadual, onde foram debatidos o contexto histórico, associativismo, questões jurídicas e legais e o avanço da medicina na pesquisa e prescrição da maconha para fins medicinais. O evento aconteceu no Teatro do Museu do Trabalho, em Porto Alegre.

O debate foi aberto pelo deputado estadual Leonel Radde (PT), presidente da frente parlamentar, em uma mesa onde também estavam presentes o educador canábico Waldomiro Aita, a bióloga Letícia Dadalt e Madalena Souza Silva (Mulher Medicina da Floresta). Segundo o portal Sul21, a audiência também contou com médicos, advogadas, pacientes de cannabis e representantes de associações canábicas que vêm lutando para garantir o acesso da população ao tratamento à base de maconha.

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Leonel Radde defendeu a necessidade de ampliar o debate sobre o uso terapêutico da cannabis e o impacto positivo que a planta pode ter na saúde das pessoas. “Nós sabemos que essa é uma pauta muito polêmica, mas ela deve ser tratada de forma urgente porque muitas pessoas precisam fazer o uso desse remédio, esbarrando no preconceito ou no custo muito elevado. Essa pauta não é mais somente uma pauta militante, mas institucional, tendo como foco a saúde pública”, defendeu o parlamentar, ressaltando que a política de fornecimento de medicamentos à base de maconha deve ser efetivada.

A bióloga Letícia Dadalt, por sua vez, destacou a importância do debate diante das inúmeras restrições que ainda obstruem o acesso ao uso medicinal da cannabis. Para ela, a discussão no âmbito público é essencial para fomentar a pesquisa sobre a planta. “As pesquisas envolvendo a cannabis tiveram, ao longo da história, vários momentos de pauta, de atraso e de obstáculos por questões legais sem nenhum fundamento científico”, pronunciou.

Os obstáculos à pesquisa da cannabis ainda são grandes no Brasil. Apenas duas universidades brasileiras podem cultivar maconha para fins de pesquisa, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que obtiveram autorização legal para o plantio em dezembro do ano passado. Em 2017, a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) foi autorizada pela Anvisa a realizar o cultivo de cannabis in vitro.

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Para o médico Juarez Verba, que também participou da audiência na capital gaúcha, é lamentável ter que se empreender tantos esforços para defender o que é óbvio.

“Chega a ser tedioso a gente precisar criar uma frente parlamentar para defender aquilo que todo mundo sabe que é bom para a população. Os benefícios do uso de canabinoides no tratamento de inúmeras patologias é pra lá de conhecido. A quantidade de pessoas que se beneficiam do uso dessa terapêutica é enorme. É infernal a gente ter a indisponibilidade desse produto para os usuários do Sistema Único de Saúde”, desabafou o profissional, apontando para a importância da frente no sentido promover legislação que garanta o acesso da população ao tratamento.

Também participaram do encontro a médica Alice Poltosi, os médicos Ariel Camargo e Norberto Klein, as advogadas Bettina Maciel e Bianca Uequed e os representantes de associações Patrícia da Rosa (Acuracan), Matheus Hampel (Ascamed), Luciano Santos (Cultivar Vidas) e Aline Fortes (Flor de Maria).

O grupo parlamentar, instituído em maio deste ano, enfrenta um grande desafio para fazer avançar uma pauta como a regulamentação do fornecimento gratuito de medicamentos de cannabis em uma casa onde a maioria dos deputados aprovam que o estado permaneça com um hino racista.

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Autor da PEC que tornou imutável o hino racista e outros símbolos de RS, o deputado Rodrigo Lorenzoni (PL) instalou em agosto uma frente parlamentar para defesa do conservadorismo no Legislativo gaúcho. O grupo conta com mais 20 parlamentares.

Enquanto a iniciativa que protege o hino racista de ser alterado foi promulgada em pouco mais de seis meses após ser apresentada na Assembleia do estado, o projeto de lei do deputado Leonel Radde que inclui medicamentos derivados da maconha no SUS continua parado na casa legislativa desde março.

Os grilhões do conservadorismo que barram o avanço de pautas de garantias de direitos e da ciência no estado podem ser vistos desde a capital. Um projeto que buscava promover a pesquisa sobre os usos medicinal e industrial da cannabis em Porto Alegre foi vetado pelo prefeito Sebastião Melo (MDB).

Nesse cenário, as frentes parlamentares desempenham uma papel de grande relevância para a sociedade e as vidas de milhares de pacientes que necessitam da cannabis em seu tratamento, fomentando o debate sobre os benefícios medicinais da planta e impulsionando as propostas legislativas sobre o tema.

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Fotografia em destaque: Rafael Rocha | Smoke Buddies.

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