Estudo identifica os compostos da cannabis responsáveis pelos aromas únicos das strains

Fotografia em close de uma inflorescência de maconha de pistilos laranjas e repleta de tricomas brancos, com fundo embaçado em tons de vermelho.

Pesquisadores afirmam que os terpenos não são os responsáveis pelos perfis aromáticos distintos de cada variedade de maconha

Apesar de muitos consumidores e cultivadores acreditarem que os terpenos encontrados na cannabis são os responsáveis pelos aromas distintos das diferentes variedades da planta, um novo estudo identificou compostos da maconha anteriormente desconhecidos que levam a uma nova compreensão sobre as qualidades aromáticas de cada strain.

O estudo, publicado este mês pela Sociedade Americana de Química, afirma que, embora contribuam para o aroma característico da cannabis, os terpenos não são os responsáveis pelos “atributos mais únicos e desejáveis de muitas variedades”.

“Embora o aroma seja uma propriedade fundamental na diferenciação das variedades de cannabis e das preferências dos usuários, a importância dos terpenos parece ser exagerada”, escreveu a equipe de pesquisa, composta por pesquisadores de empresas de testes e extração de maconha.

Os principais constituintes voláteis dos óleos essenciais da cannabis, constituindo cerca de 1% a 4% da massa total da inflorescência curada, os terpenos foram encontrados em todas as amostras do estudo sugerindo que contribuem para o aroma geral da maconha. No entanto, segundo os autores, os compostos “fornecem informações mínimas sobre os atributos aromáticos únicos de muitas variedades de cannabis”.

Leia também: Terpenos da cannabis modulam a interação entre o THC e seu receptor endógeno

Para exemplificar como as classificações de maconha baseadas em terpenos são inconsistentes, os pesquisadores mencionam um estudo recente que enquadrou os produtos de cannabis comercializados nos Estados Unidos em três classes principais: ricos em cariofileno e limoneno, ricos em mirceno e pineno, e ricos em terpinoleno e mirceno. Os autores apontam que variedades com características aromáticas muito diferentes são frequentemente encontradas no mesmo grupo.

“Por exemplo, Dogwalker OG, que possui um aroma amadeirado e de ‘skunk’, foi encontrado no mesmo cluster de limoneno/cariofileno que Tropicana Cookies, que possui um intenso aroma cítrico e tropical. Purple Punch, que possui um aroma doce de uva, também foi encontrado neste grupo”, assinalaram os pesquisadores.

Os autores afirmam que tanto as variedades de maconha com aroma adocicado quanto as “salgadas” têm frequentemente perfis de terpenos muito semelhantes, “indicando que não são a força motriz por trás das diferenças aromáticas únicas”.

As descobertas do novo estudo atribuem as diferenças de aromas entre as strains a outras classes de compostos voláteis, os aromatizantes, que podem ser classificados pela sua funcionalidade química, como, por exemplo, os ésteres e álcoois.

Os aromatizantes, assim como os terpenos, volatilizam-se (passam para o estado gasoso) facilmente nas condições ambientais, sendo importantes como compostos aromáticos na natureza.

Segundo os pesquisadores, embora estudos anteriores tenham detalhado vários destes aromatizantes, poucos os descreveram no contexto de como influenciam as propriedades aromáticas de variedades específicas de cannabis.

Leia mais: Estudo mostra efeitos positivos da cannabis no tratamento do TEPT

Ao analisar os perfis químicos voláteis de 31 extratos de haxixe (ice hash rosin) com uma ampla diversidade aromática, os autores identificaram “uma miríade de compostos não terpenoides que influenciam fortemente as propriedades aromáticas únicas da cannabis”.

O relatório destaca que a análise identificou uma nova classe de compostos sulfurados voláteis (CSVs), que “são os principais contribuintes para certas variedades com um forte aroma cítrico ou de frutas tropicais”, enquanto o escatol (3-metilindol), um composto altamente pungente, foi identificado como um componente aromático chave em variedades salgadas.

“Experimentos sensoriais foram então conduzidos e correlacionados com a análise química, revelando que os principais terpenos normalmente usados para categorizar a cannabis e testados em laboratórios analíticos parecem em grande parte semelhantes, mesmo quando as propriedades aromáticas são drasticamente diferentes”, destacaram os pesquisadores.

O artigo afirma que os resultados proporcionam uma maior compreensão da composição química da maconha além dos terpenos e como estes compostos contribuem para os aromas únicos das variedades. “Além disso, este catálogo de compostos e suas contribuições para o aroma da cannabis oferece uma nova oportunidade para classificar variedades usando os principais atributos aromáticos desejáveis.”

Leia mais: A maconha é tão eficaz quanto os opioides no tratamento da neuropatia, sugere estudo

Como assinalam os autores, os terpenos surgiram como diferenciadores secundários de variedades de maconha, além do teor de THC, “parcialmente em resposta à classificação comumente usada, mas imprecisa, da cannabis como indica, sativa ou híbrida”, termos historicamente utilizados para categorizar erroneamente a planta com base nas suas características físicas, aromáticas e psicoativas.

“Para superar as imprecisões da classificação binária indica/sativa e categorizar melhor as variedades de cannabis com base nas suas características psicoativas e aromáticas, os terpenos surgiram como um foco proeminente de investigação”, explicam eles.

Agora, os novos achados revelam como os terpenos vêm sendo superestimados pelo mercado canábico e como isso atrapalha no desenvolvimento de produtos em relação ao perfil aromático desejado.

“Atualmente, os cítricos são uma tendência muito importante na ciência dos sabores, com muitas marcas trabalhando para desenvolver alternativas cítricas”, diz um comunicado da Abstrax, uma das empresas responsáveis pelo estudo. “Com a descoberta dos compostos responsáveis pelo sabor e aroma icônicos do Tangie, conhecidos como ‘tropicannasulfurs’, outras indústrias podem aproveitar esses compostos únicos para criar aromas cítricos extremamente únicos e desejáveis.”

Além de obter uma melhor compreensão das qualidades aromáticas da maconha, os autores esperam que o estudo contribua com a pesquisa sobre o uso medicinal da planta.

“A cannabis é usada clinicamente para muitos problemas de saúde, mas ainda restam muitas questões sobre como funciona e se podemos melhorar essas propriedades criando novas variedades com substâncias químicas específicas”, disse Iain Oswald, principal cientista de pesquisa da Abstrax. “Esperamos que o nosso trabalho abra novos caminhos de investigação para que outros possam compreender melhor esta planta única e aproveitar todo o seu potencial terapêutico.”

Os achados podem complementar, por exemplo, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade do Novo México, que viu diferenças nos efeitos terapêuticos das flores de cannabis de acordo com o nível de terpenos. A pesquisa também resultou em um índice de produtos de maconha que leva em conta o conteúdo de canabinoides e terpenos, independente do nome da variedade.

Leia também:

“Efeito entourage” da maconha é o responsável pela experiência psicoativa, sugere estudo

Imagem de capa: PhotographyMD.

Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!