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Fotografia mostra parte do corpo de uma mulher que veste um roupão rosa e está sentada na cama com uma caneca da marca Erva, laricas e um kit.

A hora e a vez delas: empreendedoras canábicas miram as maconheiras

Iniciativas individuais e coletivas fortalecem a representatividade feminina no mercado canábico

Enquanto consumidora de maconha, a advogada Juliana Blanco (30) foi se envolvendo com o universo e o mercado canábico há cerca de dez anos, em uma mistura de fascinação pelas infinitas perspectivas sobre a planta e de inquietude por não se ver representada nos produtos e narrativas do segmento.

“Eu me deparava com o fato de que às vezes eu queria comprar algum outro acessório, pra casa, de decoração, e dificilmente achava alguma coisa que me agradava. Isso foi um primeiro estralo”, conta. “Junto com isso, eu não me sentia muito representada também por aquela estética mais tradicional relacionada à maconha: as coisas que eu via eram relacionadas ao reggae, ao skate, ao surfe, que têm sua relação, uma origem, mas não era o meu perfil”.

Da união entre desassossego, oportunidade e vontade, surgiu a Erva, marca que traz delicadeza e feminilidade para acessórios de decoração e vestuário inspirados na maconha. A empresa criada por Juliana em 2021 começou seu portfólio com incensos e canecas artesanais, trazendo aroma e utilidade para a casa das consumidoras, e hoje espalha a palavra da erva por aí, estampada em camisetas, quadros decorativos e itens de papelaria.

Fotografia de um quadro da marca Erva, que diz 'A flor é fêmea' e traz a flor de cannabis desenhada, pendurado em uma parede branca.
Foto: Divulgação | Erva.

Ao oferecer produtos de alta qualidade, com originalidade estética e foco em um perfil consumidor pouco explorado, Juliana traz representatividade feminina para os dois lados do balcão, lançando luz a um nicho de mercado subestimado.

“O que eu sinto é que, geralmente, as lojas são voltadas para o público masculino e tocadas por um público masculino, então, no tema de revenda, sinto um pouco de dificuldade nesse entendimento dos caras sobre o que é a Erva”, conta. “Eles imaginam que é um produto que não vai vender, mas talvez eles não estejam tão interessados em se dedicar a trazer público para esse tipo de produto. A gente sabe que o público feminino consome demais, está superativo, cada vez mais, então se dedicar a trazer uma opção para esse público acaba sendo vantajoso para o negócio deles também”.  

Além da dificuldade intrínseca de empreender no Brasil, a realidade das donas de negócios canábicos revela obstáculos particulares, como alcançar e entender os desejos e as necessidades das maconheiras.

“Eu sempre tive a preocupação de trazer uma narrativa que faça sentido e que represente aquelas pessoas de alguma forma. Então, eu não vou buscar trazer uma ideia através dos produtos sem me preocupar em entender o que as mulheres estão sofrendo no dia a dia, quais são as dificuldades, as batalhas”, diz Juliana. “E pra mim falta um ponto central do mercado que possa reunir essas experiências, essas trocas, de uma forma que se torne útil para quem quer fazer um trabalho em cima disso”.  

O poder do coletivo

Essa falta foi o que motivou Juliana de Souza (43) e Carol Mafra (34) a criarem a empresa de exposição itinerante Expomanas, que agrega empreendedoras do segmento em eventos, próprios ou não, e fortalece uma rede de negócios de e para mulheres.

“A gente percebeu que o cenário canábico, assim como muitos outros, é composto, em sua maioria, por homens, e a gente percebeu que tinham mulheres muito maravilhosas que estavam na sombra, principalmente no empreendedorismo”, conta Carol. “Tem que ter um coletivo de mulheres colocando todas na cena para que todas consigam ser vistas, valorizadas, ter seus produtos sendo divulgados”.

A Expomanas realizou seu primeiro evento em dezembro de 2023, na Nave Coletiva, em São Paulo, e desde então percorreu cidades como Curitiba (PR) e Beagá (MG), levando rodas de conversa, informações e a exposição de marcas canábicas lideradas por mulheres.

“As manas vinham de fora para participar”, explica Juliana. “Então, pensei que seria justo visitar essas mulheres no próprio lugar delas, sair da bolha de São Paulo”.

Empreendedoras reunidas na edição da Expomanas de Belo Horizonte.

Além dos eventos próprios, com entrada gratuita, a Expomanas também organiza estandes coletivos em feiras do segmento, como a Intercannabis e a Expo Head Grow, que na última edição, em junho deste ano, reuniu treze empreendedoras expondo seus trabalhos. “Isso é histórico, porque esses eventos são totalmente dominados por homens e empresas grandes que têm mais de 10 mil reais para investir no estande”, comemora Carol.

Com um calendário que contempla cidades como Campinas, Santos, Ubatuba e Salvador até o fim do ano, a Expomanas segue sua itinerância abrindo espaço para que iniciativas de mulheres se potencializem, em um belo exemplo de sororidade no mercado canábico. “Quanto mais manas a gente conseguir conhecer, conectar e se inspirar através delas, melhor pra todas nós”, diz Carol. “Quem se sentir parte, venha se juntar, porque é isso que faz o movimento acontecer”.  

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Imagem de capa: Divulgação | Erva.

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Thaís Ritli

Thaís Ritli é jornalista especializada em cannabis e editora-chefe na Smoke Buddies, onde também escreve perfis, crônicas e outras brisas.

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