Consumo de álcool, tabaco e analgésicos por jovens adultos caiu após a legalização da maconha

Fotografia mostra dois buds de maconha secos à frente de um pote de vidro aberto, onde mais inflorescências são vistas, e ao lado de sua tampa, sobre uma superfície preta lisa, em fundo escuro. Foto: Terrance Barksdale / Pexels.

Um novo estudo realizado por pesquisadores de Washington (EUA) revelou que pessoas de 21 a 25 anos eram menos propensas a consumir bebidas alcoólicas, cigarro e analgésicos não prescritos após a regulamentação da cannabis para uso adulto no estado

A maconha é a porta de saída para outras drogas, é o que aponta as evidências de mais um estudo onde a legalização da planta foi associada à diminuição do uso de substâncias mais prejudiciais.

De acordo com um novo estudo publicado no Journal of Adolescent Health, a legalização da cannabis para uso adulto está associada à diminuição do consumo de álcool, tabaco e analgésicos entre adultos jovens.

Os pesquisadores analisaram dados sobre tendências de uso de substâncias de 2014 a 2019 no estado de Washington (EUA), em uma coorte de quase 12.700 jovens adultos (18 a 25 anos), e descobriram que pessoas de 21 a 25 anos eram menos propensas a consumir álcool, tabaco e analgésicos não prescritos após a legalização da maconha no estado.

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“Ao contrário das preocupações sobre os efeitos colaterais, a implementação da cannabis não medicinal legalizada coincidiu com a diminuição do uso de álcool e cigarro e uso indevido de analgésicos”, escreveram os autores no artigo.

 

 

 

Os consumidores de tabaco também podem estar migrando para uma alternativa mais saudável ao cigarro convencional, uma vez que o estudo descobriu que a prevalência de uso de cigarro eletrônico no último mês aumentou desde 2016.

Porta de saída para drogas não prescritas

Numerosos estudos anteriores demonstraram a eficácia da maconha como porta de saída para substâncias mais prejudiciais.

Um estudo realizado pela neurocientista Yasmin Hurd, da Faculdade de Medicina do Hospital Mount Sinai, nos EUA, e publicado na revista Trends in Neurosciences revelou que o canabidiol (CBD), um dos compostos presentes na maconha, é eficaz na redução direta do desejo por heroína e no alívio dos sintomas de abstinência em usuários da substância e outros opioides.

Pesquisas feitas pelo Centro de Uso de Substâncias em Vancouver, no Canadá, mostraram que o uso de maconha permite que as pessoas consumam menos crack. O grupo de pesquisadores, das universidades canadenses de British Columbia, Montreal e Simon Fraser, estudou entre 2012 e 2015 a rotina de 122 dependentes de crack que haviam relatado estar usando maconha e crack.

Os resultados apontaram que a maconha auxilia na redução do consumo de crack. O número de usuários que relataram uso diário de crack caiu de 35% para pouco menos de 20% após o consumo das duas substâncias.

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A pesquisa canadense se alinhou com um pequeno estudo realizado no Brasil, o qual acompanhou 25 pessoas que buscavam tratamento contra o uso problemático de drogas e relataram usar maconha para reduzir a vontade por outras drogas mais “pesadas” como a cocaína e o crack. Em um período de nove meses do estudo, realizado por Dartiu Xavier e outros pesquisadores, 68% dos participantes tinham parado de consumir o crack.

A New Frontier Data realizou uma pesquisa com 3.000 adultos consumidores de maconha, nos EUA, que foram questionados sobre o porquê de utilizarem, como conseguem, como consomem e suas perspectivas sobre a sociedade e a vida.

Entre os consumidores de álcool e maconha, dois terços (65%) dizem que dada uma escolha, preferem a erva em vez da bebida, enquanto 28% seguem consumindo ambas as substâncias.

Dos entrevistados, 74% creem que a maconha é mais segura que o álcool e 73% dos pacientes medicinais a utilizam como um substituto aos fármacos, sendo que 94% reporta melhoras em suas condições.

Maconha pode combater vício em álcool e cocaína, aponta estudo

Um estudo realizado por pesquisadores do Scripps Research Institute, em São Diego, na Califórnia, ministrou doses diárias de álcool ou cocaína a roedores, levando-os a exibir comportamentos semelhantes a de pessoas viciadas, incluindo impulsividade e ansiedade. Para amenizar os efeitos do vício e auxiliar no processo de desintoxicação, os pesquisadores aplicaram um gel de CBD na pele dos animais.

Com o tempo, os ratos que receberam a aplicação do canabinoide mostraram redução nos sinais de recaída no vício, mesmo quando expostos a ambientes estressantes. Outro dado interessante é que com o tempo, cerca de cinco meses, os ratos expostos ao CBD continuaram mostrando uma menor probabilidade de recaírem, embora todos os sinais do composto tivessem desaparecido de seus organismos após três dias.

A conclusão, portanto, sugere que o uso da cannabis pode auxiliar não só no processo de desintoxicação como também na manutenção do processo, após o usuário deixar de consumir drogas.

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Diminuição do uso de drogas prescritas

Vários estudos também já evidenciaram como a legalização da maconha e uso da planta influenciam na redução do uso medicamentos prescritos.

Uma pesquisa feita por cientistas da Universidade do Novo México (UNM), nos EUA, durou 5 anos e envolveu 125 participantes, todos com dores crônicas. Dos participantes, 83 utilizaram a cannabis com os remédios e 42 escolheram não usar.

O estudo, publicado em 2017, revelou que 34% dos que se medicavam também com a maconha deixaram de usar os seus remédios para dor. Já dos que não consumiram a cannabis, somente 2% abandonaram os remédios.

Um estudo separado, publicado em 2018 no JAMA Network, analisou pacientes adultos, inscritos no Medicaid — um programa de saúde social dos Estados Unidos para famílias de baixa renda —, nos estados americanos que haviam legalizado a maconha, assim como em estados onde a planta ainda não era legal, e descobriu que, entre 2011 e 2016, os estados com cannabis legal para uso medicinal e adulto tiveram taxas de prescrição de opiáceos 5,88% e 6,38% mais baixas, respectivamente.

“A maconha é uma das alternativas potenciais não opioides que podem aliviar a dor com um risco relativamente menor de dependência e praticamente nenhum risco de overdose”, disse Hefei Wen, coautor do estudo e pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Kentucky, à Reuters.

Um terceiro estudo mostra como a maconha medicinal pode combater a crise de opioides em pacientes acima dos 65 anos. A pesquisa feita com pacientes do Medicare — o sistema de seguros de saúde gerido pelo governo dos EUA destinado aos idosos — analisou os dados entre 2011 e 2015 e detectou uma queda de 14% nas doses de medicamentos prescritos por dia nos 14 estados com dispensários de maconha medicinal (e mais 9 que foram legalizados ao longo do estudo).

Este estudo também comparou estados com dispensários àqueles que só permitem o cultivo caseiro. Os estados sem dispensários tiveram uma queda de 7% nas doses diárias de opiáceos em comparação com os estados sem legislação sobre a maconha medicinal.

Um outro estudo publicado no mês passado, na Health Economics, concluiu que a legalização da maconha está associada à diminuição do uso de drogas prescritas para o tratamento de condições como dor, depressão, ansiedade, sono e convulsões.

“Esses resultados têm implicações importantes”, disse um dos pesquisadores envolvidos no estudo, explicando que as reduções na utilização de drogas encontradas podem levar a “economias significativas de custos” para os programas sociais de saúde.

Leia mais: Acesso à maconha para uso adulto reduz demanda por drogas prescritas, diz novo estudo

Uma pesquisa com pacientes de maconha medicinal da Flórida (EUA) publicada em junho de 2021, na Medical Cannabis and Cannabinoids, revelou que a maioria (65%) reduziu ou eliminou a ingestão de pelo menos um medicamento prescrito após obter seu registro de cannabis. Os dados foram coletados em Centros de Tratamento de Maconha Medicinal em eventos do sudoeste da Flórida e no campus da Universidade da Costa do Golfo da Flórida de 157 pacientes de maconha medicinal registrados, de maio de 2019 a janeiro de 2020.

Os pacientes relataram redução da dependência de opioides (18%), ansiolíticos (18%) ou antidepressivos (15%). Além disso, os pacientes relataram substituir AINEs e soníferos pela a cannabis medicinal. Finalmente, 81% relataram que a maconha forneceu uma “boa quantidade” de alívio para seus sintomas, com resultados de alívio variando de 70% (inflamação geral) a 91% (náusea).

No Canadá, a legalização da cannabis foi acompanhada, entre outros benefícios, por um declínio nas prescrições de opioides em todo o país, de acordo com um estudo da Universidade de Toronto, publicado na Applied Health Economics and Health Policy, sobre as taxas de prescrição de opiáceos.

Os pesquisadores analisaram especificamente quantos opioides foram prescritos no Canadá antes e depois da legalização, bem como o dinheiro gasto com as drogas. O período observado foi de janeiro de 2016 a junho de 2019, e todos os dados foram retirados desse período.

O gasto total mensal com opioides também foi reduzido em maior medida após a legalização (C$ 267.000 vs C$ 95.000 por mês)”, explicou o estudo. “Os resultados foram semelhantes para planos privados de medicamentos, no entanto a queda absoluta no uso de opioides foi mais pronunciada (76,9 vs 30,8 mg/pedido). Durante o período de 42 meses, o uso de gabapentina e pregabalina também diminuiu”.

Ao comparar os períodos de tempo pré e pós-legalização, os autores observaram que o declínio na MED [dose equivalente de morfina] média por pedido foi aproximadamente 5,4 vezes maior no período após a legalização da maconha (22,3 vs 4,1 mg por pedido).

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#PraTodosVerem: fotografia mostra dois buds de cannabis secos à frente de um pote de vidro aberto, onde mais inflorescências são vistas, e ao lado de sua tampa, sobre uma superfície preta lisa, em fundo escuro. Foto: Terrance Barksdale / Pexels.

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