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Consumo de álcool causa muito mais danos a terceiros do que o uso de maconha, segundo estudo

Os achados são consistentes com descobertas anteriores de que os efeitos da cannabis na saúde e segurança públicas são muito menores do que os relacionados ao uso de bebidas alcoólicas

As pessoas sofrem muito mais danos passivos causados pelo consumo de álcool, opioides e outras drogas do que relacionados ao uso de maconha, de acordo com um novo estudo realizado com milhares de pessoas nos Estados Unidos. O consumo de bebidas alcoólicas é o maior responsável pela ocorrência de danos passivos, com 113 milhões de estadunidenses sendo prejudicados pelo uso de álcool de outras pessoas ao longo da vida.

O estudo analisou os dados de quase 7.800 pessoas que participaram da Pesquisa Nacional sobre Álcool dos EUA de 2020. A análise revelou que 34% dos entrevistados disse ter sofrido danos causados pelo uso de álcool de outros indivíduos ao longo de suas vidas. Isso se compara a apenas 5,5% que disseram já ter sofrido danos passivos relacionados ao consumo de maconha.

Entre os entrevistados, 7,6% disseram que já foram prejudicados pelo uso de opioides por outras pessoas, e 8,3% relataram danos passivos provocados pelo consumo de “outras drogas”.

Os danos passivos levantados pelo estudo incluíram acidentes de trânsito, vandalismo, danos físicos, questões financeiras e problemas familiares. A pesquisa constatou que mulheres, indivíduos brancos, divorciados ou viúvos e pessoas com histórico familiar de problemas com álcool tinham maior probabilidade de serem prejudicados pelo uso de drogas de outra pessoa.

“Muitas vezes não consideramos como o uso de álcool e drogas afeta outras pessoas além da pessoa que os usa. É fundamental compreender até que ponto estes danos se estendem às nossas comunidades, para que possamos desenvolver políticas e intervenções mais eficazes para melhor apoiar tanto o indivíduo como aqueles que os rodeiam”, disse a líder do estudo, Dra. Erika Rosen, pós-doutoranda e cientista associada do Alcohol Research Group (ARG), em um comunicado.

A pesquisa foi conduzida por pesquisadores do ARG, um programa do Public Health Institute, e dos Centros de Epidemiologia de Saúde Comportamental e de Comportamento de Saúde da RTI International. O apoio para a realização do estudo foi fornecido pelo Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo (NIAAA) dos EUA.

Avaliando o indivíduo que consumiu substâncias, os cientistas descobriram que as pessoas que bebiam mais do que as diretrizes recomendadas para consumo de baixo risco tinham probabilidades mais elevadas de sofrer danos causados pelo uso de álcool por outra pessoa. Ou seja, além de não existir um nível seguro de consumo de bebidas alcoólicas, como já foi alertado pela OMS, os indivíduos que bebem ainda estão mais expostos a danos provocados por outros bebedores.

Já entre os consumidores de maconha, essa associação é inversa: as pessoas que consumiam frequentemente cannabis tinham probabilidades mais baixas de danos causados pelo consumo de cannabis por outro indivíduo. No entanto, indivíduos que relataram uso frequente de maconha tiveram maiores chances de relatar danos passivos causados pelo consumo de álcool e opioides.

Os dados revelaram ainda que quase 30% dos indivíduos que relataram danos ao longo da vida causados pelo uso de álcool por outra pessoa também relataram danos causados pelo uso de outras drogas por outras pessoas. Entre aqueles que relataram danos passivos causados pelo uso de drogas, mais de 70% também relataram danos causados pelo consumo de álcool por outro indivíduos.

“Dadas estas sobreposições de danos causados por diferentes substâncias, o estudo enfatiza a necessidade de intervenções e políticas que envolvam substâncias cruzadas a nível da população para reduzir os danos passivos. Estas incluem abordagens comprovadas que reduziram os danos passivos associados ao álcool, como o aumento dos preços do álcool e a regulação dos horários de venda, o que também pode funcionar para coibir o uso de drogas”, escreveram os pesquisadores.

Os resultados do estudo, que foi publicado recentemente no Journal of Studies on Alcohol and Drugs, confirmam descobertas anteriores de que os efeitos da maconha na saúde e segurança públicas são muito menores do que os relacionados ao uso de bebidas alcoólicas.

Um estudo publicado na revista Accident Analysis and Prevention, por exemplo, descobriu que o uso de maconha não está associado a um maior risco de acidente de carro, enquanto o consumo de álcool foi consistentemente associado a maiores probabilidades de colisão veicular. A pesquisa foi financiada pelo Insurance Institute for Highway Safety (IIHS), instituto estadunidense dedicado à segurança nas estradas.

Dados de uma pesquisa conduzida pela Escola de Saúde Pública da Universidade Columbia, em Nova York, revelaram que os estados americanos com leis de maconha para fins medicinais experimentaram uma redução do número de acidentes de carro fatais envolvendo opioides.

A percepção pública sobre a maconha também está mudando conforme o acesso legal à planta aumenta nos EUA e as pessoas constatam que a cannabis não causa os mesmos efeitos na sociedade que o álcool, como acidentes de trânsito e violência, por exemplo.

Os estadunidenses consideram a cannabis menos prejudicial do que o álcool, tabaco, vaporizadores e outros produtos à base de nicotina, de acordo com uma pesquisa da Gallup publicada em agosto. Um levantamento separado da empresa revelou que a porcentagem de americanos que afirmam fumar maconha duplicou na última década.

Uma pesquisa divulgada em junho do ano passado pela Associação Americana de Psiquiatria revelou que os estadunidenses consideram a cannabis muito menos perigosa do que opioides, álcool e tabaco. Os entrevistados foram menos propensas a acreditar que a maconha era viciante em comparação com outras substâncias.

Ainda outro estudo, publicado no mês passado, descobriu que o número de estadunidenses que consomem maconha diariamente ultrapassou o número dos que bebem álcool com a mesma frequência. Em 2022, mais americanos relataram consumir cannabis todos os dias ou quase todos os dias (17,7 milhões) do que o consumo diário ou quase diário de álcool (14,7 milhões).

Imagem decapa: Grav | Unsplash.

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Joel Rodrigues

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