Como Javier Milei, presidente eleito da Argentina, se posiciona no debate sobre a maconha?

Javier Milei. Foto: Mídia Ninja.

Usando propostas de reformas radicais como palanque, Javier Milei pode representar um revés para as conquistas obtidas pelo movimento canábico argentino

O ultradireitista Javier Milei (La Libertad Avanza) venceu a eleição presidencial na Argentina em segundo turno neste domingo (19). Armamentista e “libertário”, o candidato foi eleito com 56% dos votos na disputa contra o governista Sergio Massa (Unión por la Patria).

Cansados do regime peronista que não foi capaz de resolver os principais problemas do país, como sucessivas crises econômicas que assolam a nação há décadas, os argentinos buscaram mudanças em um candidato que promete uma série de reformas radicais, como a dolarização da economia e a eliminação do Banco Central.

Mas e no debate sobre a legalização da maconha, quem é Javier Milei?

Nesse ponto, o posicionamento de Milei é nebuloso, pois, apesar de nunca ter expressado sua posição sobre a maconha especificamente, o presidente argentino eleito já deu pistas de ser favorável à legalização das drogas.

Em uma entrevista à Rádio con vos, em julho de 2021, após seu lançamento como candidato a deputado federal, Milei disse que não vê problemas no uso de drogas em uma “sociedade livre”, porém comparando o consumo de substâncias ao suicídio. “Se você quiser se suicidar, não tenho problema nenhum”, disse ele, frisando que “ficar chapado é cometer suicídio parcelado”.

Questionado se já usou drogas, Milei disse que “apenas uma vez” fumou maconha, acrescentando que lembrava-se de “rir muito”.

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Anteriormente, Milei havia dito ao canal de TV argentino Crónica que “não acredita em restrições” quando perguntado sobre possíveis mudanças na lei de drogas. Para ele, que defende um papel mínimo para o Estado, se não existir um estado de bem-estar social dedicado à saúde, as pessoas podem “fazer o que quiserem”.

Segundo “o peruca”, todos deveriam assumir a responsabilidade pelas decisões que tomam, como o uso de substâncias, e o Estado deve intervir apenas se o consumo de drogas incorrer em custos. “Quando você usa drogas, você fica quebrado e não serve para mais nada. Se você assumir o controle sozinho, o problema é seu. Agora o problema é quando você vai fazer isso com o meu bolso”, afirmou baseado em sua própria opinião sobre o tema.

Antes mesmo de se lançar na carreira política, Milei postou em sua conta no X (antigo Twitter), em 2017, que “talvez a arma mais poderosa que o Estado possui para aniquilar as drogas seja legalizá-las”.

Os discursos do presidente eleito, no entanto, muitas vezes são contraditórios, como por exemplo o que prega o libertarianismo enquanto se posiciona contra a liberdade das mulheres de decidirem sobre seus corpos e o aborto.

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Para a comunidade canábica argentina, a vitória de Milei representa o início de uma era de trevas para a cannabis.

Através de um comunicado, promovido pelo Colectivo de Reflexión sobre los Consumos, vários representantes da comunidade canábica manifestaram-se contra a eleição de Milei. “Vemos com preocupação a posição do candidato libertário que desumaniza com afirmações como a de que ‘cada pessoa deve assumir a responsabilidade se decidir cometer suicídio ou consumir drogas’, onde deixa de lado o apoio do Estado”, afirmam no documento.

“É um momento decisivo para a nossa história onde se discute a ideia de democracia, onde emergem discursos de ódio e negacionistas dos crimes da ditadura militar”, diz o comunicado emitido três dias antes da eleição.

A deputada da Frente de Todos (FdT) e promotora das leis sobre a maconha para fins medicinais e industriais, Carolina Gaillard, afirmou que a eleição de Milei implica em levar todos os avanços na cannabis medicinal “de volta à estaca zero”.

“Serão eliminados o Reprocann e a ARICCAME, entre outras medidas desde a área de Segurança, porque está com ele Patricia Bullrich, que como ministra da segurança foi a principal responsável por não regulamentar o autocultivo”, disse Gaillard, segundo o Cannabica Argentina.

Uma das conquistas obtidas pelo movimento canábico argentino, o Reprocann (Programa de Registro de Cannabis), que emite licenças para pacientes e associações cultivarem maconha para fins medicinais, agora está sob ameaça de dissolução, uma vez que uma das propostas de Milei é abolir vários ministérios, incluindo o da Saúde, ao qual está ligado o programa.

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Fotografia de capa: Mídia Ninja.

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