Pesquisa revisada por pares reforça que o uso de cannabis está menos associado a danos nas vias respiratórias do que o cigarro, destacando diferenças significativas nos impactos à saúde pulmonar
Um novo estudo publicado na revista Respiratory Research reforça o que pesquisas anteriores já vinham sugerindo: o cigarro tradicional tem um impacto muito mais severo nas vias respiratórias do que o consumo de cannabis.
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A análise foi conduzida por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Davis, que avaliaram dados clínicos e amostras pulmonares de centenas de pacientes. A conclusão foi clara: os efeitos nocivos do tabaco são significativamente mais evidentes do que os associados à cannabis.
De acordo com os autores, “fumantes de cigarro apresentaram mais inflamações, alterações celulares precoces e danos estruturais nos pulmões do que os usuários de cannabis”. Entre os principais achados, estavam o espessamento da parede das vias aéreas, aumento de muco e alterações celulares com potencial cancerígeno — todas muito mais prevalentes entre os tabagistas.
O estudo também identificou que, mesmo entre usuários diários de cannabis, os níveis de inflamação e dano pulmonar eram consideravelmente menores do que os observados em fumantes habituais de cigarro. Essa diferença, segundo os pesquisadores, pode estar relacionada tanto à frequência de uso quanto à composição química das substâncias inaladas.
Além disso, os autores ressaltaram que a combustão do tabaco libera uma quantidade maior de toxinas comprovadamente carcinogênicas, enquanto os canabinoides, como o THC e o CBD, não apresentaram os mesmos efeitos danosos nas amostras analisadas.
Os resultados alimentam um debate crescente sobre os riscos relativos do consumo de cannabis versus tabaco. Para a NORML (Organização Nacional para a Reforma das Leis da Maconha, nos EUA), que repercutiu o estudo, a pesquisa ajuda a desconstruir mitos históricos sobre o uso da cannabis e reforça a necessidade de políticas públicas baseadas em evidências científicas — especialmente em um momento em que a legalização do uso medicinal e adulto da planta avança em diversos países.
Apesar dos dados favoráveis, os cientistas enfatizam que a forma de consumo importa. Vaporizadores, por exemplo, tendem a causar menos irritações do que a fumaça da queima, e métodos não inalatórios — como óleos e comestíveis — eliminam os riscos respiratórios associados à fumaça.
O estudo representa mais um passo para diferenciar o estigma da realidade quando o assunto é cannabis e saúde pulmonar. Ao contrário da narrativa alarmista que por décadas associou a planta a doenças respiratórias graves, as evidências científicas vêm apontando para um cenário bem mais equilibrado — e, em muitos casos, surpreendente.
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