Uma nova esperança contra a dor crônica: um estudo científico revelou que o CBD, componente não psicoativo da cannabis, proporcionou alívio significativo em mais de 98% dos pacientes — mesmo em doses baixas e com efeitos colaterais mínimos —, reforçando seu potencial como alternativa segura aos analgésicos tradicionais
Um estudo recente publicado na revista científica Cureus oferece novas evidências sobre o potencial terapêutico do canabidiol (CBD) no tratamento da dor crônica. A pesquisa, conduzida com 121 adultos com dor persistente há mais de seis meses, revela que mais de 98% dos participantes relataram melhora após o uso de CBD — e o mais impressionante: em baixas dosagens, inferiores a 100 mg por dia.
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Além de reduzir significativamente a dor média relatada de 5,4 para 2,6 numa escala de 0 a 10, o tratamento se destacou por apresentar efeitos colaterais mínimos: 55,4% dos participantes não relataram nenhum sintoma adverso, e os demais mencionaram apenas leves ocorrências, como sonolência (29,8%), diarreia (5%) e dores de cabeça (2,5%).
Uma alternativa viável e segura
Para os pesquisadores, os dados reforçam o papel do CBD como uma alternativa promissora aos analgésicos tradicionais, incluindo os opioides, frequentemente associados à dependência e a efeitos adversos severos. O CBD demonstrou agir por múltiplos mecanismos bioquímicos, com propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, modulando receptores de dor e inflamação e atuando no sistema serotoninérgico.
“Essas descobertas podem ser reconfortantes para quem teme os riscos do uso contínuo de analgésicos potentes. O CBD aparece como uma ferramenta potencialmente eficaz, com menos efeitos colaterais e baixo risco de dependência”, apontam os autores.
Perfil dos pacientes e uso do CBD
A maior parte dos pacientes (61,2%) era do sexo masculino, com idade média de 37 anos. Dentre as causas mais frequentes da dor estavam artrite, hérnia de disco, fibromialgia, enxaqueca e neuropatia. A maioria utilizava o CBD uma a três vezes ao dia, com doses predominantes entre 50 mg e 100 mg. Apenas uma pequena parcela relatou uso superior a 1.000 mg diários.
A consistência nos relatos de melhora, mesmo com dosagens baixas e uso esporádico, indica que o CBD pode ser efetivo sem interferir na rotina dos pacientes. Três pessoas relataram resolução completa da dor após o uso.
Cannabis vs. Opioides: evidência crescente
O novo estudo se soma a uma série de pesquisas que apontam a cannabis medicinal como alternativa eficaz na redução do uso de opioides. Dados de estudos nos EUA mostram que, em estados onde a maconha foi legalizada, houve queda significativa nas prescrições e nas mortes por overdose de opioides.
“Os resultados sugerem que a substituição de analgésicos tradicionais por cannabis aumenta à medida que cresce o acesso legal à planta”, afirma um relatório publicado no periódico Cannabis.
Em Minnesota, por exemplo, quase um quarto dos pacientes com dor crônica reduziu o uso de outros analgésicos após iniciar tratamento com cannabis medicinal. Já entre veteranos militares, 40% relataram usar cannabis para dores e problemas de sono, e 98% acreditam que profissionais de saúde deveriam discutir o uso de produtos naturais com os pacientes.
O que vem pela frente?
Embora promissores, os pesquisadores reconhecem limitações no estudo, como o fato de os dados serem autorrelatados e coletados online. Eles defendem novas pesquisas clínicas, com protocolos controlados, para validar as evidências e estabelecer regimes terapêuticos mais precisos com o uso do CBD.
Mas uma coisa é certa: o avanço da ciência e da regulação pode consolidar o CBD como uma ferramenta crucial no enfrentamento da dor crônica — com segurança, eficácia e menor risco de dependência. E isso, no contexto da crise dos opioides e do envelhecimento populacional, é um dado que não pode ser ignorado.
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