Cannabis na pele: cosméticos canábicos ganham espaço no Brasil

Na onda da beleza consciente, produtos de cannabis aliam hábitos saudáveis a qualidade de vida para o maior órgão do corpo humano: a pele
Você sabia que a cannabis é cada vez mais utilizada para tratar uma variedade de condições dermatológicas? Quem afirma isso é um estudo farmacêutico britânico, publicado em 2020, que revisa o uso de canabinoides no tratamento de uma variedade de doenças de pele.
“Os canabinoides demonstraram propriedades anti-inflamatórias, antienvelhecimento, entre outras, através de vários mecanismos, incluindo a interação com o recém-descoberto sistema endocanabinoide da pele, proporcionando assim uma alternativa promissora aos tratamentos tradicionais”, diz o resumo do estudo.
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O farmacologista clínico Dr. Hilton Santos endossa o estudo, explicando que a cannabis pode atuar dermatologicamente principalmente na produção de sebo e cabelo, além de sua ação anti-inflamatória e cicatrizante, mencionando também o sistema endocanabinoide da pele.
“A presença do sistema endocanabinoide cutâneo tem potencial para tratar uma variedade de condições dermatológicas através da manipulação dos receptores canabinoides”, diz o médico.
Isto quer dizer que o uso tópico da cannabis pode trazer vantagens potenciais em tratamentos cutâneos, como a psoríase, dermatite atópica e acne.
Para o médico, este é um campo de estudo “ainda carente de pesquisa, mas extremamente promissor”.
Creme mescla ingredientes conhecidos com cannabis
À medida em que a pesquisa farmacêutica avança, mais os produtos dermatológicos e cosméticos de cannabis encontram espaço nos marketplaces de importação, aliando-se com antigos conhecidos do nicho.
Por exemplo, o ELIV Care & Comfort, que possui em sua composição manteiga de abacate, manteiga de karité, manteiga de cacau, cera emulsificante, ácido esteárico, óleo de amêndoa e água, aliados ao canabidiol (CBD) e o canabigerol (CBG).
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Rico em vitamina A e E, o creme para uso local conta com as propriedades anti-inflamatórias do canabigerol para melhorar a dor e inflamação nas regiões acometidas, como as articulares e musculares.
Atualmente o ELIV Care &Comfort ainda está longe das drogarias brasileiras, mas pode ser adquirido via importação, mediante prescrição médica.
“Beleza consciente” atrai mercado de cosméticos à cannabis
Segundo os reports da 13:20:HUB, um hub de inteligência estratégica dedicado ao mercado de beleza consciente, bem-estar e saúde integrativa, o mercado cosmético brasileiro pode estar mais próximo do que nunca de integrar a cannabis em suas formulações.
“A beleza consciente engloba outros termos como ‘beleza limpa’, ‘vegana’, ‘orgânica’, ‘natural’, ‘upcycling’ etc. Acho que esse é o grande futuro, todos nesta categoria. É tendência porque pode ser feita sintetizando ingredientes naturais que não são prejudiciais à saúde humana, nem ao meio ambiente, nem aos animais”, explica Melissa Volk, idealizadora do 13:20:HUB.
Tantas definições demonstram a versatilidade da cannabis para os mais variados produtos, como séruns, cremes, óleo para couro cabeludo, máscara de limpeza facial e até lipstick, fazendo brilhar os olhos do mercado de cosméticos.
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“A pele é o nosso maior órgão, e é a segunda principal via de nutrição do corpo. Quem trabalha na indústria cosmética adoraria que o uso da cannabis fosse liberado porque a planta tem propriedades únicas e singulares”, diz Melissa.
Para a empresária, este comportamento de consumo trilha um caminho mais holístico, de bem-estar integral.
“A gente entende que a beleza não só estética, física e de padrão, mas sim de saúde e bem-estar, numa rotina de autocuidado que seja prazerosa de maneira holística, com esportes, alimentação, hidratação e usando cosméticos que não vão agredir nosso organismo.”
CBA e CBD-like: Aliados ou “weedwashing”?
Na esteira da tendência deste mercado promissor, surgem os produtos CBD-like. Também conhecidos como CBA, ou Cannabinoid Active System, estes são produtos que pretendem se promover através da interação com o sistema endocanabinoide, vendendo compostos que atuam como os fitocanabinoides e sem presença de cannabis.
Melissa Volk acredita que esta vertente tem relevância por também pertencer ao nicho de “beleza limpa”. “É uma síntese artificial, porém que não é nociva”. Ela explica que a substituição da cannabis por outros ingredientes pode ser benéfica justamente para contornar as restrições impostas a este insumo.
“O CBD-like pode ser interessante para ver se o produto tem mercado porque, como existe muito preconceito, as marcas precisam saber o que pode fazer bem ou mal para sua imagem.”
Porém, Melissa chama a atenção para a possibilidade de estar trocando gato por lebre. “Eu chamo de weedwashing o charlatão que diz que só por que tem determinados ingredientes já consegue atuar no sistema endocanabinoide, ou que coloca CBD bem grande na embalagem para enganar o consumidor com todo aquele apelo de maconha.”
Isto por que, usando ingredientes diferentes da cannabis, é necessária uma concentração muito maior de compostos, como o cariofileno e humuleno, para que tenha algum efeito. Daí a importância dos testes que comprovam a eficácia destes produtos no sistema endocanabinoide.
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Fotografia de capa: photohobo | Freepik.

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