Cannabis mostra grande potencial no combate a bactérias resistentes, aponta revisão de estudos

Fotografia que mostra um estetoscópio, alguns ramos de cannabis secos e um frasco com substância amarela deitado em uma superfície branca lisa. Crédito: jcomp | Freepik.

Pesquisadores malaios demonstraram como a maconha pode se tornar uma nova fonte de tratamento para infecções bacterianas

Os organismos multirresistentes a antibióticos representam uma ameaça crescente à saúde pública global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A resistência bacteriana ocorre quando bactérias sofrem alterações e deixam de responder aos medicamentos, sendo apontada pela OMS como consequência do uso indevido e excessivo de antibióticos.

Diante das taxas crescentes de resistência bacteriana, o desenvolvimento de novas classes de antibióticos se mostra urgentemente necessário.

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Nesse contexto, pesquisadores malaios demonstraram como a cannabis tem o potencial de se tornar uma nova fonte de tratamento para infecções bacterianas.

Uma equipe de cientistas da Universidade de Ciências da Malásia, da Universidade Malaia e da Universidade Putra Malásia revisou a literatura científica e constatou que vários canabinoides demonstraram ter propriedades antimicrobianas.

Um estudo de 2021 mostrou que o canabidiol (CBD) foi eficaz contra uma ampla gama de bactérias, incluindo Neisseria gonorrhoeae, que causa a gonorreia. “O canabidiol mostrou uma baixa tendência de causar resistência em bactérias, mesmo quando aceleramos o desenvolvimento potencial aumentando as concentrações do antibiótico durante o ‘tratamento’”, disse Mark Blaskovich, professor associado do Instituto de Biociência Molecular da Universidade de Queensland e um dos autores do estudo.

“Achamos que o canabidiol mata as bactérias ao estourar suas membranas celulares externas, mas ainda não sabemos exatamente como ele faz isso e precisamos fazer mais pesquisas”, acrescentou.

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Segundo a revisão dos cientistas malaios, o uso da cannabis combinado com antibióticos tem mostrado atividades de “amplo espectro e sinergismo”.

“Os resultados de estudos anteriores sugerem que os canabinoides podem potencialmente melhorar a eficácia dos antibióticos existentes”, escreveram os autores em um artigo publicado na revista Pharmaceuticals.

Isso é confirmado por uma pesquisa publicada em abril na Scientific Reports, onde pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara mostram como a combinação do CBD com o antibiótico polimixina B demonstrou ser uma terapia eficaz contra superbactérias, como a Klebsiella pneumoniae, por exemplo.

“Sugerimos que os canabinoides sejam mais explorados pela ciência por meio de novas formulações farmacêuticas, ensaios pré-clínicos e testes clínicos em seres humanos, visando o reposicionamento do CBD como novo antibiótico”, disse o biomédico Leonardo Neves de Andrade, coordenador do estudo.

A revisão malaia reconhece que o maior desafio para o desenvolvimento de pesquisas sobre a eficácia da cannabis está nos limites legais em torno da planta — a maconha ainda é listada no Anexo 1 da lei de substâncias controladas dos EUA, onde estão as drogas definidas como sem uso médico aceito e com alto potencial de abuso.

“Devido à dificuldade de cumprir os requisitos legais desses regulamentos, pesquisadores e organizações financiadoras podem estar menos inclinados a examinar produtos inovadores”, alertaram os autores da revisão.

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#PraTodosVerem: fotografia mostra um estetoscópio, alguns ramos de cannabis secos e um frasco com substância amarela deitado em uma superfície branca lisa. Crédito: jcomp | Freepik.

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