Importação de Sativex traz esperança, mas ainda não é a melhor solução. Saiba por quê

O mundo já está de olho nele que, em diversos países, já é largamente usado como tratamento de doenças graves, como esclerose múltipla e dores crônicas. Mas o medicamento Sativex, à base de Tetrahidrocanabinol (composto da maconha), só agora vai começar a dar o que falar aqui no Brasil através do caso de Juliana Paolinelli.

Enquanto ainda precisamos da justiça para autorizar a importação, o Sativex já pode ser prescrito em 24 países (sendo 18 deles europeus) como Canadá, Austrália, Inglaterra e, mais recentemente, a França.  De olho no, amplo e necessitado, mercado o laboratório francês Ipsen e o britânico GW Pharmaceuticals anunciaram um acordo, em janeiro, para distribuir o medicamento na América Latina.

No Chile, uma decisão judicial similar à da mineira Juliana garantiu também o direito de uma paciente, com câncer, para importar a medicação. No entanto, em janeiro deste ano a ANVISA informou que ainda não há pedidos para registro comercial do remédio no Brasil.

As recentes decisões da justiça de autorizar a importação dos extratos e spray derivados da maconha, o Sativex à base de THC e o Extrato do Óleo à base de CBD, já é um passo importante, mas é absolutamente insuficiente para resolver a questão medicinal da maconha no Brasil.

Segundo uma recente entrevista com a GW Pharmaceuticals, a empresa por trás da droga, o Sativex pode estar a apenas alguns meses da aprovação da FDA (agência responsável pela liberação de medicamentos nos EUA, assim como a ANVISA no Brasil). E se isso continuar acontecendo, não há dúvidas de que o debate sobre a maconha como medicina só vai se intensificar.

Por que pagar tão caro em algo que você pode cultivar? 

Qualquer autorização para importação, dos medicamentos derivados da maconha, já é uma vitória na quebra de paradigmas e principalmente do paciente que depende da substância (THC ou CBD) para seu tratamento. No entanto, temos que lembrar que todas vitórias estão vindas acompanhadas de todo custo, e digamos um ALTO CUSTO, para uma sequência mínima de tratamento que pode durar uma vida inteira.

CBD – No caso das crianças, como a pequena Anny Fischer, que antes sofriam até 80 crises convulsivas e hoje após o uso do extrato rico em canabidiol (CBD) tem esse número significativamente reduzido,  encontraram um alívio no extrato da maconha, mas o custo deste tratamento ainda é muito elevado. Com uma dose de 1 g de extrato/óleo por dia (cada ampola tem 10g), a família tem um custo de R$4.800,00 mensais só com a importação do CBD.

THC No mais recente caso,  o da Juliana com o Sativex – medicamento alvo da ação que é à base de Tetrahidrocanabidiol (assista ao vídeo abaixo), que abrirá caminho (precedentes jurídicos) para ações similares fornecendo o direito a diversos pacientes que necessitam do THC, não apenas para alívio das dores crônicas e espasmos, mas servindo também a pacientes portadores de esclerose múltipla, câncer (auxiliando nas dores e náuseas produzidas pela quimioterapia) entre outras condições, que acabarão por esbarrar na mesma questão financeira que os dependentes de CBD.

Para facilitar o entendimento, na Nova Zelândia uma prescrição média anual do Sativex custa cerca de R$ 35 mil. Agora multiplique esse valor pela estimativa de vida desejada para o paciente. Financeiramente, uma hora o tratamento se tornará inviável.

Todo avanço na luta pela regulação medicinal da maconha é uma vitória, mas ainda é pouco e para muitos continuará sendo uma opção de tratamento utópica. Precisamos sim das autorizações e decisões judiciais, mas precisamos lutar para que qualquer brasileiro tenha esse direito, além de defendermos que de imediato o Poder Público ofereça GRATUITAMENTE o medicamento, como faz com pacientes de outras doenças graves, queremos que também que seja regulado o cultivo de maconha para fins medicinais.

Maconha é remédio. E agora, queremos cultivar!

Visando incentivar e pressionar nossos governantes para o debate, lembramos que consta ainda no portal e-cidadania, no Senado Federal, a proposta de debate na Comissão de Constituição e Justiça, para que seja posto em prática o que determina o Parágrafo Único do Artigo 2º da Lei 11.343  de 2006 (atual lei de drogas), que permite à União autorizar o plantio, a cultura e a colheita da maconha, exclusivamente para fins medicinais, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização.

O que iremos ver acontecer no Brasil já ocorre no exterior, a sempre ‘benevolente’ indústria farmacêutica ajudará a contornar a legalização da maconha para o caminho corporativo. Uma regulação apenas para fins medicinais, com o direcionamento para a indústria, de nada servirá aos necessitados sem um bom meio financeiro e continuará ineficaz para a maioria dos afetados pela criminalização de uma planta, o jovem, negro e morador das periferias e favelas brasileiras.

A maconha é uma planta altamente versátil e rica em propriedades medicinais, algo que pode abalar fortemente a ‘mega farma’. Antes que nos tornemos reféns dessa força ‘do mal’, devemos nos libertar do medo e nos lembrar que lidar com a maconha para fins medicinais pode ser mais eficaz e simples que decifrar uma bula de remédio.

Abaixo há alguns fatos sobre o Sativex, relacionados pelo site Leaf Science, que devem ser considerados principalmente em Terras Tupiniquins.

Aperte e Leia: Sativex – Tudo o que você precisa saber sobre o spray de THC

1. O Sativex é um extrato da maconha.

Apesar de seu nome farmacêutico, o Sativex é feito da planta da cannabis em si. O presidente da GW Pharmaceuticals, Geoffrey Guy, disse à imprensa que o Sativex contém todos os mesmos compostos encontrados na cannabis.

A diferença, porém, é que o Sativex é manufaturado utilizando-se modernos processos que permitem à medicina ser padronizada – significando que cada vidro de spray tenha a mesma concentração dos ingredientes ativos. A fórmula do Sativex contém uma escala de THC e CBD de 1:1.

A falta de padronização é um dos principais pontos de atrito para os médicos que hesitam em apoiar a maconha medicinal.

2. O Sativex é feito em um país onde a maconha é ilegal.

O produto é desenvolvido e manufaturado na Inglaterra, onde a GW Pharmaceuticals tem sua sede.

Apesar do fato de que a maconha continua sendo ilegal na Inglaterra, mesmo para propósitos medicinais, o governo liberou uma licença para a GW em 1998 permitindo que a empresa plantasse maconha para o desenvolvimento de novos medicamentos.

Recentemente, o tratamento com base no Sativex foi aprovado no país. Ao mesmo tempo em que grupos de advogados ativistas lutam para que o uso de maconha medicinal seja legalizado por lá.

3. O Sativex tem todos os efeitos colaterais da maconha.

A partir do fato de que o Sativex é feito da maconha, ele também da um “barato”. Embora a escala de THC e CBD seja menor do que em um potente “camarão”, uma coluna do site Health Canada alerta que o uso do medicamento pode causar “sintomas de intoxicação por cannabis”.

Tonturas e fadiga são os sintomas mais comuns a serem associados ao uso do Sativex. E, como a maconha, estudos confirmaram que o remédio não causa efeitos permanentes nas funções cognitivas.

Por outro lado, o Sativex é administrado como um spray oral e já foi apontado que este tipo de uso causa desconfortos em 20% a 25% dos pacientes. Usuários de maconha medicinal não experimentam com frequência este problema e muitas vezes preferem os vaporizadores para evitar os efeitos negativos do fumo.

4. O Sativex na gringa já é caro, imagine no Brasil.

O custo do Sativex em países onde ele é aprovado já provou ser uma barreira.

Na Nova Zelândia, uma prescrição média anual do remédio custa cerca de R$ 35 mil (US$ 16 mil). O professor da Escola de Medicina de Londres, Gavin Giovannoni, também notou que “o Sativex não possui um bom custo-benefício” na Inglaterra, o que leva “um grande número” de pacientes da Escola a continuarem usando formas ilegais de uso da maconha.

Ainda assim, empresas enfrentam custos significativos associados na obtenção de dados clínicos que satisfaçam as autoridades da saúde. Estes custos influenciam no preço que o paciente irá pagar.

6. O Sativex não é considerado maconha na lei federal (dos EUA).

Enquanto alguns podem pensar que a aprovação da FDA sobre o Sativex seja impossível para  governo dos EUA , pois o mesmo continua defendendo a classificação da maconha na Escala 1 de drogas, o tal sinal verde pode não ser tão difícil assim.

Como se pode notar, ao Sativex foi dado seu próprio nome científico: nabiximols. Assim como em outros casos de medicamentos à base de maconha, como o dronabinol (Marinol) e o nabilone (Cesamet), o fato permite que o Sativex seja classificado separadamente da maconha.

Na maioria dos países onde o remédio é vendido, foi usada esta abordagem para manter a proibição sobre a maconha medicinal em si.

7. O Sativex pode ser útil para muito mais do que a esclerose múltipla.

Enquanto o Sativex é frequentemente aprovado para o tratamento de espasticidade muscular, a droga também está sendo usada para um grande número de condições.

Além dos estudos realizados que mostram que as dores devido ao tratamento do câncer são amenizadas, nos EUA, o Sativex também está sendo testado na Inglaterra como um suplemento ao tratamento de tumores cerebrais. Estudos também sugeriram benefícios no tratamento de artrite e dor neuropática.

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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